O drama do país do jeitinho

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) começar a julgar nesta terça-feira – 6 de junho – o processo onde é pedida a cassação da chapa Dilma-Temer, eleita em 2014. Dilma, já afastada pelo impeachment, pode perder seus direitos políticos e Temer corre o risco de ter o mandato interrompido. Mas este não é o principal problema. O presidente foi atingido frontalmente pela delação de Joesley Batista e aguarda o resultado da perícia na gravação, que deverá sair dentro de aproximadamente 20 dias. Ainda tem como complicador a prisão do ex-assessor Rocha Loures, flagrado recebendo a mala com os R$ 500 mil, que seria destinada ao governante mas, diante da descoberta, foi entregue à Polícia Federal. Artistas e movimentos de oposição insistem na renúncia e em “direta-já”, e o PSDB, principal partido de sustentação, está dividido entre permanecer ou abandonar o governo. E um quadro adverso para quem insiste em governar e fazer reformas.

Justa ou injustamente – não importa – forma-se um clamor pelo afastamento do presidente, que resiste e não admite renunciar. A defesa de Temer se confronta com o Ministério Público e acusa o procurador geral, Rodrigo Janot, de tentar constranger o TSE ao prender o ex-assessor direto do presidente que, sem saída, poderá fazer delação premiada e entregar outras inconfidências palacianas. Teme-se, ainda, o surgimento de outras gravações, de telefonemas, entre o presidente e o assessor hoje encarcerado. Tudo é ingrediente para a instabilidade e certamente atrapalhará a recuperação do país em crise. Em outras épocas, quando os Estados Unidos incentivavam ditaduras de direita como forma de conter o avanço das de esquerda, os militares já teriam tomado uma atitude.

 A grande tragédia nacional é a constatação de que, na atual conformação, os governos e a ação política são sustentados através da corrupção. As eleições são custeadas por dinheiro sujo, os apoios congressuais comprados por benesses, leis de incentivos e desoneração vendidas e negócios do Estado trocados por propina aos seus facilitadores. Tudo isso, revelado da forma clara que hoje está colocado, enlameia a biografia dos políticos, independente de partido, ideologia ou qualquer outra variável. Mas um país precisa de políticos para ser governado. O que fazer, então? Essa é a grande interrogação contemporânea. As lideranças políticas, em sua grande maioria, estão comprometidas e, pelo menos aparentemente, não há quem possa assumir seus lugares. Nesse caso, o grande risco é, mais uma vez, acontecer o “acordão”, como ocorreu na anistia ao final do regime militar e em crises anteriores, onde todos os erros e excessos, tanto de uns quanto de outros, foram perdoados, a vida seguiu , os velhos hábitos sobreviveram e o país simplesmente patinou.

Mais do que trocar o governante, o Brasil precisa de ética, moral, honestidade e patriotismo, tanto dos políticos quanto dos empresários e daqueles que se relacionam com o governo. Não podemos continuar, eternamente, como o país do jeitinho…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br      

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