A Lava Jato e sua multiplicação

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

 Diz o noticiário que o procurador Deltan Dalagnol, em palestra para 290 procuradores de 25 estados, distrito federal e do próprio MPF (Ministério Público Federal) revelou que sua expectativa é de que a Operação Lava Jato, que até hoje soma 45 fases, deva chegar a 500 ou mais, num paralelo a conhecido jogo da rede social, que passa do meio milhar de etapas. As duas informações – do treinamento de procuradores estaduais quanto aos métodos aplicados na operação federal e da expectativa do número de fases – nos autoriza a previsão de que além de apurar os malfeitos federais e estaduais, conforme já vem ocorrendo, a Lava Jato se estenderá a estados ainda não pesquisados e, principalmente, aos municípios. Governadores, prefeitos, deputados estaduais, vereadores e dirigentes de instituições públicas e privadas que com elas transacionam devem colocar as barbas de molho.

A Lava Jato buscou novos paradigmas de apuração aos ilícitos. Além da investigação tradicional, abriu a porta para os processos de delação onde o investigado obtém o benefício da redução de pena ou da execução desta, se admitir o crime, fornecer detalhes de sua prática e declinar os nomes e ações dos parceiros. É por conta desse sistema que o ex-presidente Lula é réu em sete processos (um deles já com sentença de primeira instância) e ainda poderá ser envolvido em outros. Outros ex-governantes e muitos parlamentares, executivos e empresários também são processados ou investigados e até o presidente da República é alvo de denúncia formal de crime supostamente cometido no exercício do mandato.

Através do rigor nas apurações, o Ministério Público Federal levou os envolvidos a abandonar o pacto de silêncio vigente na maioria das empreitadas criminosas. Até o empresário Marcos Valério – que segurou toda a carga durante o mensalão e por isso foi condenado a quase 40 anos, mudou de estratégia e hoje também faz parte de programas de delação. Apenas a questão dos irmãos Batista, que denunciaram e quase derrubaram o presidente Michel Temer é questionável. Por exemplo, a afoiteza do ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que com eles negociou e concedeu imunidade quanto a seus crimes sem a certeza do que fazia. Tanto que, ao final do mandato, pediu a revogação do acordo e ambos – Joesley e Wesley – hoje cumprem prisão preventiva.

A corrupção é uma das maiores injustiças que acometem nosso país. Através dela, os recursos públicos vão para mãos indevidas e a população sofre – e até morre – por falta de saúde, educação, segurança, trabalho outros bens e serviços que os governos têm o dever legal de prestar, mas negligencia por falta de recursos. Sua continuidade é a esperança do povo…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
aspomilpm@terra.com.br

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