MATO GROSSO – Frigoríficos operam no “mínimo” e mais plantas podem ser fechadas

A redução da oferta de bovinos em Mato Grosso preocupa o setor e acende o sinal de alerta das indústrias frigoríficas. Das 44 plantas com selo de inspeção federal (SIF)  instaladas no Estado, apenas 23 estão em atividade e, ainda assim, operam com ocupação de somente 71,5% da capacidade de abate. O número é considerado perigoso para indústria, já que a margem mínima de ocupação para manter uma unidade em operação é de 70%.

O alerta foi feito pelo vice-presidente do Sindicato das Indústrias Frigoríficas (Sindifrigo), Paulo Bellincanta, em entrevista ao RDNews. O Estado tem hoje capacidade total instalada para abater 787,6 mil cabeças por mês. Mas, se considerarmos apenas as unidades em atividade, esse número cai para 523,4 mil.

De janeiro a julho, deste ano, Mato Grosso abateu a média de 374 mil animais/mês, o que corresponde a 71,5% do total da capacidade de abate das unidades em operação. Isso quer dizer que a taxa de ociosidade é de 28,5% se calculada em cima das unidades em operação e de 47,5% se calculada em cima da capacidade total instalada (unidades em operação ou não).

A saída de bois vivos de Mato Grosso para abate em outros estados contribui consideravelmente para este cenário. Bellincanta explica que a redução da alíquota de ICMS para a venda de animais vivos, feita pelo governo anterior, precisa ser revista a exemplo do já é feito em estados como o Pará (PA) e Mato Grosso Sul (MS). Atualmente, o governo local cobra 7% de ICMS na venda do boi em pé fora do Estado. Enquanto no estado vizinho é cobrado 12% sobre este mesmo tipo de transação. Ou seja, a alíquota mais alta para venda fora do Estado oferece uma certa proteção para o que boi seja abatido no mercado interno em Mato Grosso do Sul.

Nos primeiros sete meses deste ano, saíram mensalmente a média de 53,4 mil animais vivos de Mato Grosso. Só no mês passado foram 83 mil animais, de acordo com o Imea. O sindicalista explica que estes números são bastante representativos, pois caso os 53,4 mil animais permanecessem no Estado, seria possível elevar a taxa de ocupação das plantas em operação ou reabrir ao menos cinco frigoríficos, os quais abateriam a média de pouco mais de 10 mil animais por mês, gerando 4500 empregos diretos e outros 13500 indiretos. Os números referentes aos possíveis postos de trabalho são feitos baseados em estudos do Sindifrigo, os  quais apontam a média de 2,7 funcionários quando envolve desossa e 1,4 sem desossa para cada boi abatido/dia.

A única solução apontada pela categoria para reverter esse cenário é trabalhar a questão do incentivo fiscal, para que em Mato Grosso o boi também seja abatido em maior quantidade no mercado interno. “Não existe outra saída. Essa é a única alternativa. Se não revisarmos os incentivos teremos outros fechamentos e mais demissões. É hora de corrigir essa distorção e fomentar nosso mercado interno”, avalia.

O empresário entende que não se deve proibir a venda de animais vivos para fora do Estado, mas acredita que fortalecer o mercado interno é imprescindível para a manutenção do setor.

“Fizemos um trabalho mostrando os benefícios do boi morrer no Estado. Apesar de não ter o ICMS direto, o governo teria a arrecadação do ICMS indireto na conta de energia elétrica, na compra dos insumos, plásticos. Isso passa dos R$ 200 milhões ao ano”.

Em setembro de 2015, reportagem produzida pelo RDNews  já apontava que a redução da oferta de bovinos para abate no Estado havia acarretado o fechamento de 18 plantas frigoríficas no período de 18 meses, média de uma por mês.

Em meio a crise, quase metade dos frigoríficos são fechados – veja mapa

CPI Frigoríficos

Quando questionado sobre a possibilidade de novas plantas serem abertas de imediato conforme divulgação de membros da CPI dos Frigoríficos, presidida pelo deputado Ondanir Bortolini (Nininho), ele diz que é inviável. “Impossível é a palavra mais tênue que eu encontro. Os números estão expostos e são oficiais do Mapa e do Imea. Uma atividade industrial funcionando a menos de 70% da sua capacidade é inviável”.

Para ele, as plantas poderão ser reabertas desde que o animais permaneçam no Estado, caso isso não ocorra, ressalta que haverá mais fechamentos. “E isso depende da matéria prima, não tem mágica. Não existe esse discurso de que os frigoríficos querem fazer reserva de mercado. Isso é discurso vazio, que ficou no passado e não se sustenta olhando os números. Não é possível que a atividade esteja se condenando à morte para usufruir de uma operação governamental”, dispara.

Seja o primeiro a comentar sobre "MATO GROSSO – Frigoríficos operam no “mínimo” e mais plantas podem ser fechadas"

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado.


*