Com 220 propriedades rurais e 9,4 mil km², o município de Campo Novo do Parecis (384 km de Cuiabá) é uma das regiões produtoras mais ricas do Estado e vive do progresso trazido pelo agronegócio. Entretanto, os trabalhadores e os produtores rurais passaram a sentir os efeitos da crise no país: a falta de emprego e, como consequência, o aumento de roubos. O crime que antes se limitava ao furto de gado e defensivos agrícolas, passaram a ser nas residências e até mesmo a despensa dos funcionários das fazendas.
Uma quadrilha foi presa no dia 21 de junho, por meio de uma ação integrada entre a Polícia Militar e a Polícia Judiciária Civil, e pôs fim a uma série de roubos que vinham ocorrendo nas fazendas da região há pelo menos 60 dias, cujo objetivo principal era levar as armas das propriedades rurais. A ação marcou início dos trabalhos da Patrulha Rural, uma equipe da Polícia Militar, comandada pelo sargento Rogério da Silva, visita propriedades rurais, faz barreiras de acesso e patrulha dia e noite as estradas vicinais do município de segunda-feira a segunda-feira.
Por meio de uma câmera escondida em um dos cômodos na casa de um funcionário da Fazenda Gindri, cerca de 60 km da sede do município, cinco bandidos foram identificados numa ação em que agrediram os moradores da casa, entraram na casa de outro funcionário, roubaram a compra do mês, peças de roupa, além de objetos de valor como TV e notebooks.
Dos envolvidos nos roubos, três membros estão presos inclusive o chefe do bando, Diego Rodrigues Ferreira. Desde então não se registrou roubos nas fazendas do município e a polícia, por meio da Patrulha Rural, estreitou as relações com o Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis e com a Prefeitura Municipal.
Além da patrulha, o sargento Rogério da Silva mantém um grupo no aplicativo de whatsapp com a participação dos policiais militares, o delegado da cidade Adil Pinheiro de Paula, produtores rurais e trabalhadores de fazendas. Além de troca de informações, o policial orienta que eles tirem fotos de placas de veículos e motos suspeitas que rondarem as propriedades.
“A Patrulha Rural feito pela Polícia Militar ajuda muito a Polícia Civil primeiro na prevenção e na reunião de informações, por exemplo, avisando sobre veículos suspeitos, às vezes eles mesmos fazem a checagem e passam para a gente. Aqui há uma parceria muito boa entre a Polícia Civil e a Polícia Militar e juntos estamos nos empenhando em prevenir crimes onde proprietários são vítimas, Campo Novo tem uma movimentação agrícola muito forte”, comentou o delegado.
Reconhecimento
A gerente do Sindicato Rural de Campo Novo do Parecis, Vera Lúcia Garcia, diz que tem sentido os efeitos da patrulha rural e espera que seja ampliado. “Nosso sonho é que eles tenham mais equipes para reforçar o trabalho de ronda. Nos colocamos a disposição para ajudar e pedimos que o governo olhe com carinho e se possível mande caminhonetes traçadas para facilitar o trabalho da ronda policial”.
Um dos proprietários da Fazenda União, Eriberto Martelli, parabeniza a ação da PM, mas ele chama a atenção para manutenção das prisões. “Acho muito interessante esse trabalho da Polícia Militar em patrulhar a área rural, mas o que me preocupa mesmo é se a Justiça vai manter essas pessoas presas. O que me preocupa é que eles não vem apenas roubar, eles fazem reféns, é tortura psicológica. Eles tem que continuar presos!”, destacou.
Luiz Amir Farias, gerente da Fazenda Gindri, diz que a patrulha rural é uma segurança a mais e muito necessária. “Diferente da cidade, na fazenda você não tem vizinho por perto, e é importante esse contato com a polícia. Mas também vamos tomar mais medidas de segurança como instalar câmeras e cercar a entrada da fazenda”.
O tenente-coronel Antônio Gilvando de Souza, que responde provisoriamente pelo Comando Regional 7 (Tangará da Serra e região), diz que a patrulha rural ainda funciona de uma forma mais operacional do que com planejamento estratégico. “Queremos buscar a parceria com a prefeitura e o prefeito se colocou à disposição para nos ajudar com hora estendida, por exemplo, mas isso tem que passar pelo Comando Geral e pela Secretaria de Estado de Segurança Pública. Estamos buscando parcerias para melhorar o policiamento”.
Vida pregressa
No folder distribuído pelos policiais militares aos fazendeiros e trabalhadores constam dicas de segurança comuns na cidade, mas que no campo, ainda não era muito utilizado: checar a vida pregressa dos funcionários. “Muitas vezes o proprietário tem prazo para plantio e colheita, entrega dos animais e acaba contratando sem checar quem é esse funcionário”, comentou o sargento Rogério da Silva.
Um dos indiciados pela Polícia Civil na quadrilha de roubo a fazenda Edicio Augusto da Silva, vulgo ‘Bolão’, é um tratorista que conhece bem as fazendas da região e as investigações mostraram que ele é quem dava informações sobre as fazendas ao bando. O carro dele foi reconhecido pelas vítimas como o mesmo usado nos roubos.
Também consta orientações para os funcionários não passar orientações às pessoas estranhas, evitar carregar grandes quantidades de dinheiro para o pagamento dos salários, não guardar objetos valiosos nas propriedades, dentre outras orientações.
Débora Siqueira | Sesp/MT
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