Enfrentamento da hanseníase em Mato Grosso é prioridade de governo

Com a intensificação de busca ativa e de mutirões de diagnóstico, o governo do Estado e os municípios detectaram 3.426 casos novos da doença em 2017

Rose Velasco | SES/MT

O governo do Estado lançou no dia 31 de janeiro o Plano Estadual de Enfrentamento da Hanseníase, durante solenidade no Palácio Paiaguás realizada pelo governador Pedro Taques e o secretário de Estado de Saúde, Luiz Soares. Na ocasião as autoridades assinaram uma portaria instituindo o Plano, com ações de Estado para serem executadas até o ano 2020.

O tema da campanha nacional de 2018, escolhido pela Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), é “Todos contra a Hanseníase”. A Secretaria de Estado de Saúde (SES-MT), por meio da equipe técnica da Superintendência de Atenção à Saúde e da Coordenadoria de Ações Programáticas Estratégicas (Coapre), vai criar uma agenda única com os municípios para divulgar as ações que ocorrerão em todo o Estado, para o enfrentamento da hanseníase.

Os dados atualizados e oficiais divulgados na primeira semana de abril deste ano pelo Ministério da Saúde informam que em Mato Grosso foram detectados 3.426 casos novos da hanseníase. Esse resultado, apesar de preocupante, demonstra a preocupação do Governo estadual e dos municípios em enxergarem as pessoas que estavam doentes, mas que ainda não tinham acesso à rede municipal de saúde pública para serem tratadas e curadas da doença.

“Precisamos enxergar essas pessoas e incluí-las no Sistema Único de Saúde [SUS] para ter tratamento digno e ter a inclusão social”, destacou o governador Pedro Taques, em seu discurso de lançamento do Plano Estadual de Enfrentamento da Hanseníase.

Ainda de acordo com dados da doença no Estado, o índice de abandono de tratamento é de 7% e de óbito em razão da doença é de 1,6%. A hanseníase tem cura e o tratamento é feito na rede municipal de saúde e pelo SUS que também custeia o medicamento e outros serviços de apoio psicossocial e de reabilitação para os pacientes regulados no SUS.

A proporção de cura da hanseníase foi de 75,9% em 2017. Mesmo com esse avanço no combate à doença, Mato Grosso ainda ocupa o topo do ranking de ocorrências de hanseníase no País. “Em que pese estarmos avançando na luta para eliminar a doença, existe o aspecto positivo que é o fato de o Estado enxergar essas pessoas que antes estavam esquecidas e fora da rede pública de saúde; isso significa que tínhamos uma demanda oculta e que vem sendo descoberta anualmente com a intensificação dos trabalhos de busca ativa e de mutirões nos municípios, bem como com o trabalho de educação permanente e de campanhas educativas voltadas para a população em geral. Esse resultado para nós da saúde é muito importante porque significa que o nosso esforço está alcançando o resultado esperado qual seja, levar a saúde pública para todos, onde estiverem se na área urbana ou rural”, salientou o secretário de Estado de Saúde, Luiz Soares.

O Plano estadual começou a ser executado em 2015 e passou por reformulações e redimensionamento de investimentos em 2017, com a contribuição direta de técnicos do Cermac, Laboratório Central (Lacen), Escola de Saúde Pública de Mato Grosso (ESP-MT), Centro de Reabilitação Dom Aquino Correa (Cridac), e Escritórios Regionais de Saúde, sob a coordenação do Gabinete Coletivo da SES/MT.

As atividades previstas no plano são voltadas para o fortalecimento da rede de atenção à Saúde; para a Atenção Primária; Atenção Ambulatorial Especializada; Atenção Hospitalar e de Urgência e Emergência; Rede de Autocuidado e Reabilitação em Hanseníase Estadual e Regional e de Educação e Comunicação em Saúde.

Nas áreas técnicas que integram a Secretaria-adjunta de Atenção à Saúde serão intensificadas as discussões do tema nas ações programáticas e estratégicas da SES, em especial no Programa Saúde na Escola, Programa Bolsa Família, Programa Estadual Pró-Família, bem como no Telessaúde e a Escola de Saúde Pública. Esses programas têm como prioridade a prevenção e, por essa razão, são desenvolvidos em escolas da rede pública para detectar a doença em jovens entre 5 e 15 anos de idade.

As ações de diagnóstico iniciaram nesse primeiro semestre com a volta às aulas e devem atender a mais de 300 mil alunos em todo o Estado.

DADOS EM MT

Considerando a base de dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan) de 2017, houve um aumento de 768 casos novos em relação ao ano de 2016. A SES/MT alerta para o indicador de exame de contatos, que em 2017 está em 66,5%, sendo este considerado muito baixo. O exame de contatos é a principal estratégia de controle da doença, nesse caso, é importante que os municípios intensifiquem a estratégia. O Sinan, do Ministério da Saúde, informa que Mato Grosso registrou as maiores taxas de detecção de hanseníase do país.

No ano de 2015, a taxa de detecção de novos casos da doença foi de 93,00/100.000 habitantes, totalizando 3.037 casos novos. No ano de 2016 foram detectados 2.658 casos novos, correspondendo a uma taxa de detecção de 80,4/100.000 habitantes. No período de 2009 a 2016, Mato Grosso registrou 1.334 casos em crianças menores de 15 anos, correspondendo a 6% do total de casos registrados.

 

Estes dados reforçam a presença de focos de infecção e transmissão recentes da doença. Devido ao longo período de incubação, a hanseníase é menos frequente em menores de 15 anos de idade. Contudo, em áreas de maior prevalência e no caso de detecção da doença em focos domiciliares, a incidência nesta faixa etária é esperada.

Quanto à distribuição da doença, existem regiões hiperendêmicas que apresentam elevadas taxas de detecção. No ano de 2016, observou-se que a maior taxa de detecção da hanseníase ocorreu na região do Médio Araguaia, com taxa de detecção de 379,9/100.000 habitantes, seguida das regiões Vale do Peixoto, Alto Tapajós, Teles Pires, Norte, Vale do Arinos, Garças/Araguaia e Baixo Araguaia.

“Se, por um lado, os dados de elevada taxa de detecção indicam que ocorrem iniciativas importantes no campo da atenção à saúde para a elucidação diagnóstica, por outro lado, as regiões com menor detecção, considerando a alta endemicidade da hanseníase e fluxo migratório do Estado, sugerem a existência de fragilidades na APS quanto a estratégias ativas de detecção de novos casos”, informou Rejane de Fátima Conde Finotti, técnica do Programa Estadual de Controle da Hanseníase da SES-MT.

A equipe técnica da SES-MT alerta as secretarias municipais de Saúde quanto ao diagnóstico preventivo de pacientes com hanseníase. “A porta de entrada para o Sistema Único de Saúde (SUS) é a rede básica de saúde municipal, por isso a importância de as prefeituras redobrarem a atenção para o momento do diagnóstico. O registro da doença em grande parte dos municípios tem ocorrido de forma tardia”, ressaltou Finotti.

Pela série histórica de Mato Grosso analisada (2009-2016), a taxa de grau de incapacidade física tipo dois avaliada no momento do diagnóstico foi classificada como regular, de acordo com os dados apresentados. Esse quadro demonstra que o diagnóstico da doença no Estado ainda é tardio. Outro aspecto importante a considerar dentre os casos novos, é que ocorrem situações nos quais o exame neurológico do paciente não é realizado no momento oportuno, ou seja, no momento do diagnóstico, o que impossibilita a prevenção de outros danos, como o desenvolvimento de úlceras em regiões hipo e/ou anestésicas decorrentes de agressões físicas que passam despercebidas pelo paciente e as limitações funcionais que poderiam ser evitadas com o adequado acompanhamento fisioterápico do portador de hanseníase.

Quanto ao percentual de cura, no período analisado (2009-2016), considerou-se como regular (=75 a 89,9%) em todos os anos da série histórica. A proporção de abandono foi menor do que 10%, percentual considerado adequado, e registrou-se uma queda de 5% no ano de 2016 (1,1%) em relação a 2015 (6,1%).

SITES ESPECIALIZADOS E REFERÊNCIAS

Para facilitar o acesso da população às informações de como diagnosticar e tratar a hanseníase, vários sites tratam sobre a doença.  O site oficial da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso tem como endereço eletrônico de acesso às informações sobre doenças crônicas, entre elas a hanseníase, o seguinte link: http://www.saude.mt.gov.br/cidadao/352/informacoes-de-saude.

Em Mato Grosso, a saúde realiza o serviço de orientação permanente aos profissionais da área médica, de enfermagem e agentes comunitários de saúde, por meio do núcleo Telessaúde MT. Neste site é possível acessar o Manual Informativo 01, que trata o tema hanseníase para os agentes comunitários de saúde. Profissionais da atenção primária cadastrados na Plataforma Telessaúde podem solicitar teleconsultorias para auxílio na elucidação diagnóstica de casos clínicos. http://www.telessaude.mt.gov.br/Arquivo/Download/4201

Já o Ministério da Saúde mantém uma página atualizada sobre a hanseníase, contendo fluxos, protocolos clínicos, diretrizes terapêuticas, informações técnicas e publicações da área: http://portalms.saude.gov.br/saude-de-a-z/hanseniase

A Organização Mundial da Saúde orienta sobre a Estratégia global para hanseníase 2016-2020:

http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2017/setembro/06/Estrategia-Global-para-Hanseniase-OMS-2016-2020.pdf

E a Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH) disponibilizou o acesso às peças da campanha “Todos Contra a Hanseníase”:

http://www.sbhansenologia.org.br/campanha/janeiro-roxo   

A SBH criou a Página de Facebook da campanha “Todos Contra a Hanseníase” – SBH – é uma página interativa contendo fotos e vídeos de casos clínicos e atividades desenvolvidas pela SBH com o lema da campanha:

https://www.facebook.com/todoscontraahanseniase/

Além de disponibilizar as ações desenvolvidas e os casos clínicos de hanseníase no seguinte endereço eletrônico: https://www.facebook.com/SBHansenologia/

A luta contra a hanseníase conta com o importante apoio da Associação Alemã de Assistência aos acometidos pela hanseníase e tuberculosos (DAHW – Deutsche Lepra – und Tuberkulosehilfe) – No Brasil a DAHW está presente no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amazonas e Maranhão. Desde o ano de 2016, a FUNDHANS assumiu a gestão dos projetos da DAHW no Brasil:

http://www.fundhansdahw.org.br/

O blog da FUNDHANSDAHW contém informações preciosas sobre casos clínicos, direitos humanos, aspectos históricos e informações específicas de psicologia e odontologia, entre outros assuntos de interesse:

http://www.fundhansdahw.org.br/conteudo/

Outro importante apoiador é o Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (MORHAN), que tem como missão “possibilitar que a hanseníase seja compreendida na sociedade como uma doença normal, com tratamento e cura, eliminando assim o preconceito e estigma em torno da doença”. O site possibilita uma viagem na linha do tempo para conhecer a história de sofrimento e superação de Francisco Nunes, o Bacurau, ícone de resistência e luta pelos direitos das pessoas com hanseníase: http://www.morhan.org.br/  

A ONG disponibiliza ainda o serviço de Telehansen: desenvolvido pela MORHAN, é um canal voltado ao esclarecimento de dúvidas sobre a hanseníase: Ligue para o serviço TeleHansen 0800 026 2001.

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