Os mosquitos Aedes aegypti que carregam a bactéria Wolbachia têm a capacidade reduzida de transmitir o arbovírus Mayaro. A descoberta está em um artigo publicado na última edição da revista científica online Scientific Reports, que integra o grupo Nature e abrange todas as áreas das ciências naturais. O estudo foi realizado por um grupo de pesquisadores do Instituto René Rachou (IRR), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), sediado na cidade de Belo Horizonte, e resultou no artigo “Wolbachia significantly impacts the vector competence of Aedes aegypti for Mayaro virus”.
A pesquisa foi feita a partir de um isolado do vírus circulante no Brasil, multiplicado em células do Aedes aegypti. O vírus foi misturado com sangue humano e utilizado para alimentar dois grupos de Aedes aegypti: mosquitos do campo e aquele que possuem em seu organismo a bactéria Wolbachia. A análise, realizada após a infecção dos mosquitos, mostrou que os Aedes aegypti com Wolbachia possuíam muito menos vírus na região da cabeça (local onde se encontram as glândulas salivares), enquanto que os mosquitos de campo (que não carrega a Wolbachia) se encontravam significativamente mais infectados com o vírus Mayaro.
Em outro ensaio realizado, a saliva dos mosquitos (com e sem Wolbachia) expostos ao vírus Mayaro foi extraída e, posteriormente, injetada em Aedes aegypti de campo, que ainda não haviam tido o contato com o vírus. O resultado apontou que, ao receber a saliva de mosquitos com Wolbachia, os mosquitos não sofreram a infecção, enquanto as salivas provenientes dos mosquitos controle se tornaram em sua maioria infectados. Esse ensaio, realizado em laboratório, mostra a capacidade reduzida de transmitir o vírus de mosquitos com Wolbachia.
“O estudo mostra que, potencialmente, o método que consiste em liberar Aedes aegypti com Wolbachia no ambiente para reduzir a capacidade de transmissão de doenças é eficaz para mais um arbovírus, além de dengue, Zika e chikungunya”, avaliou Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz e um dos autores do artigo. Moreira é o líder do World Mosquito Program (WMP) no Brasil, iniciativa internacional de combate a doenças por mosquitos e que, no país, é conduzida pela Fiocruz. O WMP está presente em outros 11 países da América do Sul, Ásia, Oceano Pacífico e Oceania.
Além de Moreira, assinam o artigo: Thiago Nunes Pereira, Marcele Neves Rocha, Pedro Henrique Ferreira Sucupira e Fabiano Duarte Carvalho, todos pesquisadores do IRR/Fiocruz. O artigo está disponível em: https://www.nature.com/articles/s41598-018-25236-8.
Febre Mayaro
O vírus Mayaro (MAYV) é um arbovírus da família Togaviridae, gênero Alphavirus, assim como o vírus Chikungunya (CHIKV), ao qual é relacionado genética e antigenicamente. A febre Mayaro, provocada pelo vírus, é uma zoonose silvestre transmitida principalmente pelo mosquito Haemagogus janthinomys. O Aedes aegypti, que é um mosquito urbano, têm a capacidade de atuar como vetor do vírus Mayaro, o que já foi demonstrado experimentalmente. Entretanto, não existe nenhum caso conhecido que tenha sido transmitido dessa forma.
“Nós ainda não identificamos Aedes aegypti na cidade de Manaus com o vírus Mayaro. Nossos pesquisadores identificam que há Mayaro circulando, mas não a forma como acontece a transmissão”, explicou Sérgio Luiz Bessa Luz, pesquisador e diretor do Instituto Leônidas e Maria Deane (ILMD) da Fiocruz, localizado em Manaus. Casos de febre Mayaro já foram notificados também nos estados de Pará, Tocantins e Goiás, segundo o Ministério da Saúde.
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