Recentemente a dura realidade da morte me tocou. Dor, rostos abatidos, a necessidade determinante de ser forte mesmo diante do coração dilacerado.
Não sei o que dói mais; a notícia, a constatação visual de que a vida se fora, ou o último adeus assim que a tampa é baixada, o pano cai e tudo vira terra e cimento.
Observando à minha volta, retendo-me na dor silenciosa, questionei-me como, ao final, as pessoas encontram forças para recomeçar. Qual é a mágica da mente ou do espírito humano que faz com que sigamos mesmo com o corpo coberto de cicatrizes? Com que o rosto entumecido dê lugar às marcas de um sorriso espontâneo novamente?
Todos os demais seres vivos passam pelos dias sob a ignorância que estão vivos, e, portanto, que irão morrer. Simplesmente, vivem. Os homens, do contrário, sabem do fim, e por isso remam contra a maré na plena tentativa de deixar a ideia de morte e perda num cantinho escuro e fechado a sete chaves. Mas o dia chega. A dor recai sobre as pessoas, mas o retorno da normalidade é tão inevitável quanto a certeza da agonia.
Nestes dias, cruzei com um conhecido que estava comigo no mesmo velório. Ele me cumprimentou, brincou até, como se a página estivesse virada e, a vida, seguindo – e, sim, ela (a vida) não para seu curso, é impiedosa com nossos problemas e lamúrias.
Vi nesse conhecido a prova viva de que todos temos uma força escondida para renascer das cinzas, bater nossas asas e voar novamente, como a mitológica Fênix. Religião, família, entes queridos servem como agentes catalisadores da necessidade primal do homem de ser feliz. É como se a caixinha do sofrimento fosse inóspita o bastante para que nós cansemos e, no momento certo, decidamos esticar os músculos e recomeçar.
Enfim, isso é viver. Saborear os bons momentos, que não são eternos, como alento do inevitável ato final – este, sim, eterno e irreversível.
As mensagens de ano novo me ajudam a introspectar ainda mais o assunto. Ninguém deseja ao outro que seu ano seja “realista”, que ele saiba lidar com o sofrimento e que ninguém parta para a morte. Desejamos vida, amor e felicidade, como esse tudo isso fosse determinações do destino, de algo que estamos fadados a viver, mesmo diante das agruras.
Assim sendo, acho válidos os votos de um ano melhor assim que enterramos os 12 meses anteriores. É como reafirmar que, não importa o que aconteça, seremos movidos ao impulso de renascer, de sorrir novamente, dando prosseguimento à deliciosa e, ao mesmo tempo, amarga, aventura que é viver. Isso, até que os panos caiam para nós também.
Paulo Stucchi é escritor, atuou como redator, jornalista responsável e editor em jornais impressos e revistas. Também foi professor e coordenador de curso de Comunicação. Atualmente, divide seu tempo entre o trabalho como assessor de imprensa e sua paixão pela Literatura, História e Psicanálise.
Livro Menina: Após ter suas edições físicas esgotadas, a história de Menina – Mitacuña, escrita por Paulo Stucchi, volta a versão de papel e pode ser adquirida sob encomenda! A obra foi relançada em 2018 na Amazon, em versão e-book, porém os amantes dos livros impressos poderão ler a emocionante trajetória de uma menina indía guarani e um soldado negro desertor do exército brasileiro que tentam sobreviver em meio a Guerra do Paraguai em nova versão impressa. Para os interessados, o processo de compra é simples, é só entrar no Clube de Autores, clicando neste link – se cadastrar, finalizar a compra e pronto, a confecção dura de 3 a 7 dias e o livro pode ser recebido pelos correios ou retirado diretamente na gráfica.
Seja o primeiro a comentar sobre "As asas da Fênix e o recomeço"