A infestação de coronavírus e, principalmente, as mortes que dela poderão decorrer são os mais graves problemas hoje enfrentados pelo país e pelo mundo. Mas da forma que a questão está se encaminhando no Brasil, ainda teremos de purgar adicionalmente a crise econômica e social. Tanto que o presidente Jair Bolsonaro, em pronunciamento nesta terça-feira (24), pediu a governadores e prefeitos que abandonem o “conceito de terra arrasada” e voltem atrás nas questões do fechamento do comércio, escolas e outros estabelecimentos e do confinamento em massa. Considerando que o grupo de risco é nas pessoas a partir dos 60 anos de idade e são raros os casos fatais em menores de 40 anos, pregou que se reabra as escolas e possibilite o funcionamento do país, adotados os devidos cuidados entre as pessoas para evitar a infecção.
Neste momento, mais grave do que os riscos concretos é a polarização política. A conhecida falta de tato do presidente somada à oposição e oportunismo de seus contrários – muitos deles em postos importantes da República – potencializam o embate e o clima de discórdia, prejudicial ao momento de crise pandêmica. É preciso compreender que o país não dispõe de lastro econômico para sustentar por muito tempo a cessação da atividade produtiva. Por mais que possam fazer, tanto os cofres públicos quando o bolso do empresariado só suportarão até certo ponto. É preciso fazer tudo para evitar a chegada da quebradeira nos negócios pois, aí sim, a verdadeira crise econômica se instalará com o aumento do desemprego, problemas de abastecimento e convulsão social. Só 6% da população têm alguma poupança e o caixa das empresas pequenas e médias, que constituem 80% do segmento, não suporta mais do que 27 dias sem produção. Há que se considerar, ainda, que os vulneráveis – trabalhadores informais, ambulantes, moradores de favelas e outros – precisam gerar sua renda todos os dias ou, então, passam fome. Nada mais perigoso do que uma população de esfomeados.
Existem muitas teorias sobre o combate ao vírus e a devastação econômica por ele trazida. É hora dos detentores do poder se unirem em busca da melhor solução. Presidente, governadores e prefeitos têm de deixar em segundo plano suas divergências políticas e ideológicas e os planos de futuro, para atenderem ao imperativo do momento. Eles têm a obrigação de criar o protocolo que mais se ajuste à situação brasileira, de seus estados e municípios em relação ao vírus. Sempre com o cuidado de evitar que os efeitos colaterais do “remédio” sejam mais devastadores do que o mal combatido.
Senhor presidente, governadores, prefeitos, simpatizantes e antipatizantes. Compreendam o momento difícil e deixem de lado tudo o que possa desuni-los e enfraquecer o combate do mal. Não façam do coronavírus uma maldita bandeira eleitoreira. Seus eleitores e toda a Nação esperam dos senhores grandeza e senso de responsabilidade. Não permitam que as vaidades, os interesses pessoais, políticos ou ideológicos coloquem tudo a perder. A pandemia vai passar e depois dela, cada um que siga o seu caminho, mas todos com a certeza do dever cumprido…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
Seja o primeiro a comentar sobre "Não façam o coronavírus de bandeira eleitoreira"