Paulo Batista de Melo
Corria o mês de junho de 1985 quando aqui chegamos para cumprir um contrato jornalístico de seis meses e aqui estamos até hoje. Fiquei agradavelmente surpreendido e até um pouco assustado com o movimento reinante numa cidade que parecia pacata.
A atração reinante na época, além do comércio forte, era a praia Quarto Crescente em Aragarças, durante o dia, e a agitada vida noturna de Barra do Garças. Era a chamada “Farra do Garças”, cantada em prosa e verso nas grandes metrópoles do interior por aqueles que aqui chegavam para aproveitar o potencial turístico e se divertir ou ainda em busca de novas fronteiras de investimento.
O dinheiro corria farto e os bancos, que aqui plantaram as suas bases, investiam nos empresários locais e nos forasteiros de outros estados, liderados à época pelas levas de gaúchos que aqui acostaram.
Infelizmente chegamos bem perto do fim da época de ouro de Barra do Garças, de onde partiram os neoempreendedores em direção ao vale do rio Araguaia e que criaram ou desenvolveram cidades como Nova Xavantina, Canarana, Água Boa e tantas outras ao longo da BR-158.
A ganância e as péssimas intenções da quase totalidade dos empresários que investiram no município, atraídos pelo crédito fácil da Sudam, transformaram os projetos promissores em meros esqueletos ao longo das rodovias BR-07 e BR-158. Na área do agronegócio, naquele tempo centrado na pecuária intensiva de corte, o que se viu foi um empresariado tacanho e míope, que desmatou e implantou grandes extensões de pastagens mal projetadas, mal resolvidas e mal aproveitadas, gerando, ao fim da década de oitenta, mais de 600 mil hectares de pastagens degradadas.
Os empresários que vieram em busca de crescimento e enriquecimento debandaram para as novas cidades ao longo do vale e Barra do Garças passou a se mostrar apenas como um ponto de convergência e partida para aqueles que buscavam futuro mais promissor.
BARRA DO GARÇAS EM CAPÍTULOS – II
Barra do Garças sempre mostrou expressivo potencial no setor turístico, muito embora seus administradores nunca tenham se motivado ou aplicado vontade política de empreender nesse veio claramente perceptível. Era patente, quando cheguei, que já havia passado o momento de se pensar na metropolização dos três municípios do encontro das águas dos rios Araguaia e Garças em torno da expansão e exploração do turismo integrado.
A vida noturna de Barra do Garças e oportuna criação da Praia Quarto Crescente pelo intrépido casal Jesus Loureiro e Tininha foi o pontapé inicial da frequência de praia. Os moradores das três cidades, à época Pontal do Araguaia ainda era distrito de Torixoréu, acorreram ao local e atraíram turistas de todos os lados para curtir a praia Quarto Crescente durante o dia e Barra do Garças, durante a noite.
Paralelamente as atrações turísticas se expandiam para as cachoeiras, com especial menção à da usina, única que apresentava alguma infraestrutura para receber os turistas. As outras, em número de sete, eram visitadas apenas pelos mais audaciosos.
O incremento natural da atividade turística na região levou à criação do Parque da Serra Azul e o acesso mais fácil às cachoeiras e ao Cristo, principalmente com a pavimentação do acesso à plataforma do Cidacta. Importante anotar que a criação do parque foi de autoria do então deputado barra-garcense Humberto Bosaipo, porém ele não realizou o sonho do parque ser municipal, frustrando os defensores da exploração turística de Barra do Garças.
Também foi naquele período que A Gazeta do Vale do Araguaia lançou a ideia do Projeto Turístico Barragarças, abrangendo as três cidades. A vaidade e o egocentrismo falaram mais alto, com cada um dos prefeitos brigando pela paternidade e controle da iniciativa. Tal pensamento predomina até hoje e o potencial turístico tem sido desperdiçado e exaurido.
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