Por Rodrigo Alves de Carvalho
— Ah, tenha dó Mauro Augusto! Quarenta e três anos nas costas e fica assistindo esses desenhos japoneses esquisitos!
— Pelo amor de Deus Ana Clara! Não é desenho, e sim, anime!
— Tanto faz! O que não dá para aguentar é ver um homem barbado com dois filhos praticamente criados, ficar assistindo e se envolvendo com essas coisas de crianças!
— Não é coisa de criança não senhora. No Japão os animes são como os seriados aqui no Brasil, e tem anime que é mais assistido por adultos que as novelas brasileiras!
— É ridículo Mauro Augusto! E não é só isso. Você fica na internet em fóruns e comunidades dessas coisas. Não percebe que fica conversando com crianças e adolescentes sobre essas bobagens de desenhos animados?
— Não é desenho animado! É anime!
— Faça-me um favor Mauro Augusto! Vai para o boteco. Vai conversar com adultos de sua idade sobre futebol, política, e até mesmo sobre mulheres, mas para com essas criancices de desenhos japonês!
— Não é desenho! É anime!
— Outra coisa! Seus filhos não ficam tão vidrados nessas coisas como você, e olha que um tem quinze anos e o outro dezessete.
— Se eles não gostam, eu respeito. Mas eu gosto.
— Não sei como pode gostar disso. Cavaleiros do Zodíaco, olha que coisa mais sem noção. Dragon Ball, um desenho onde existe porco e gato falante que vive no meio do povo. Yu Yu Hakusho, vê se isso é nome de desenho, e tem também esse tal de Naruto!
— Não fala mal do Naruto! Não fala mal do Naruto ou a gente vai brigar.
— Era só o que me faltava! Brigar com você por causa desses desenhos!
— Não é desenho! É anime!
— Não interessa. Você precisa tomar uma decisão na sua vida Mauro Augusto. Ou você para de assistir esses desenhos ou vou para casa de minha mãe.
— Olha Ana Clara. Vou ser bem sucinto e direto com você, não quero que faça isso. Mas se ficar falando que anime é desenho… eu não respondo por mim.
— O quê? Vai me bater? Vai largar de mim! Quero ver. Você não é homem de fazer isso. Duvido que faria isso por causa desses desenhos!
Mauro Augusto então junta os pulsos, abre as mãos, estica o braço, contrai os músculos e solta um grito estarrecedor:
— Kame-Hame-Haaaaaaa!
Ana Clara pegou seus pertences e mudou-se para casa de sua mãe.
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
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