Diga não à política do sangue no olho

Todos os ocupantes de cargos públicos que pretendem concorrer às próximas eleições – a presidente da República, governador, senador e deputado (federal ou estadual) –  deixaram seus postos na última sexta-feira. Exceção aos ocupantes de cargos executivos que concorrem ao mesmo posto (presidente e governador) e aos parlamentares, que não necessitam se afastar  para participar da campanha. A tendência é que os governos e suas repartições passem a produzir melhor porque os que ali estavam com o objetivo de conquistar votos já foram para o terreno da batalha que, cada ano que passa, é mais árdua, mal-educada e até desumana. A polarização ideológica leva os homens (e mulheres) ao cometimento de grosserias que não lhes foram ensinadas em casa, na escola e nem na sociedade.

Para cumprir sua finalidade básica – escolher os melhores dos concorrentes para cada posto – a campanha não poderia ser calcada na troca de ofensas e na desconstrução do adversário, como temos visto ocorrer pelo menos nas últimas dez eleições. Os ocupantes dos postos recorrem a todos os artifícios para não serem derrotados, e os seus adversários, usam carga semelhante no sentido oposto. E o eleitor, em vez de participar do momento cívico ouvindo propostas de trabalho e solução de problemas, acaba presenciando a lavação de roupa suja e, conforme a pressão empregada, opta por uma das teses negativas e desqualifica o seu voto. Em vez de votar naquele que lhe pareça o melhor para governar e legislar pela comunidade, deposita sua preferência pelo que bate mais forte. Com isso, todos perdemos e a população torna-se cada dia mais crítica, insegura e violenta.

A reeleição para cargo executivo – criada em 1997 – foi um casuísmo criado para atender ao interesse do presidente de plantão – Fernando Henrique Cardoso – que reuniu os votos necessários para aprová-la no Congresso Nacional. Mas acabou atendendo aos seus sucessores, que a criticaram na época da instituição, mas depois dela se aproveitaram. Lula e Dilma reelegeram-se, Michel Temer abriu mão porque o clima político era ruim depois do “impeachment” de Dilma, de quem era vice-presidente. Mas Jair Bolsonaro, que também defendeu o fim deste instituto, será agora candidato ao segundo mandato.

A permissão para o titular do Executivo ser candidato no pleno exercício da função – apesar de todas as restrições da lei eleitoral – acaba por beneficiá-lo. Para perder a eleição quando está à frente do governo, o candidato tem de ser muito ruim ou feito algo que impacte negativamente a sua imagem. Bem sabem disso os presidentes, governadores e prefeitos que já passaram pelo processo. Para nós, eleitores, também é incômodo, pois quando o eleito não é de nosso agrado, temos oito anos para suportá-lo. Talvez daí venha o crescente desinteresse da população sobre as eleições, justificado pelo crescente número de abstenções e votos nulos e brancos. No próprio interesse, o cidadão comum só deveria votar em candidato que tenha o fim da reeleição como programa de governo. Isso porque essa janela aberta na legislação eleitoral só favorece quem está no poder e – logicamente – prejudica os demais. Pode, também, ser uma alavanca para a corrupção onde interessados em vantagens no governo se esforçam para reeleger o governante com quem já tem acordo. A reeleição para o Executivo é contrária à democracia.

Os candidatos que vierem a se apresentar para 2 de outubro farão um grande favor ao país se realizarem sua campanha com propostas e sem ofensas. Poderão baixar a bola do embate político e qualificar melhor o voto. A política de “sangue no olho” que temos presenciado é destrutiva, denuncia um povo em retrocesso e fatalmente, pode levar até à morte candidatos, eleitores e terceiros de boa-fé e má localização. Precisamos acabar com tudo isso. Só assim poderemos continuar confiando no Brasil como país de um grande futuro.

Cuidem-se e não prejudiquem o desenvolvimento da política e da sociedade.

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