A aceitação dos resultados das pesquisas – tanto as eleitorais quanto as de audiência de veículos de comunicação – sempre foi controversa. Tanto que durante muitos anos, os perdedores na aferição dos institutos perguntavam ao povo: Você já foi ouvido por algum pesquisador?. E, com isso, procuravam desqualificar os resultados apresentados. Os donos das pesquisas garantiam que eram verdadeiras, principalmente, honestas e, quando o resultado das eleições era diferente do aferido, justificavam que pesquisa é o retrato de um momento, que pode ser mudado em questão de horas. Haviam também clientes de verificações de radio-flagrante que recortavam a planilha de resultados e diziam possuir 70, 80 e até 90% da audiência, mas não esclareciam que, no quadro geral, mais de 80% dos aparelhos de rádio da região estavam desligados. Tudo era um jogo de cena onde os contratantes atuavam como mágicos prestidigitadores, torcendo o resultado de acordo com o seu interesse.
Toda essa cultura ao redor das pesquisas, criada ao longo de décadas, está presente hoje nas consultas eleitorais, especialmente as de presidente da República. Começa pela polarização que leva o eleitor-seguidor a acreditar na supremacia do seu candidato e não admitir o contrário. E segue pela flutuação entre Bolsonaro e Lula, cada um com suas particularidades. Não pretendo criticar os realizadores das consultas, mas não consigo deixar de achar esquisito que um, que arrasta multidões, pode estar atrás do outro que tem dificuldades para sair às ruas e encontrar-se com o povo. Penso que a realização de pesquisas deveria se cercada de cuidados para evitar que funcionam como propaganda eleitoral antecipada. Recorde-se que durante toda a campanha presidencial de 2018 foram feitas duas dezenas de pesquisas e em 2022 já foram produzidas e divulgadas 70 delas. Para quê tudo isso? Quem as custeia?
Estamos em tempo de definição de candidaturas. Só no dia 5 de agosto estarão lançados os nomes de todos os concorrentes aprovados pelos partidos. A partir daquela data haverá mais térmica para uma aferição das possibilidades dos concorrentes. Hoje existem dois que correm à frente, mas ainda poderá aparecer entre os demais um nome que se destaque e possa se constituir na chamada terceira via.
Outra coisa que fragiliza a credibilidade das pesquisas é o universo consultado. Embora se sustente que o número de pesquisados é decorrente de estudos estatísticos, é difícil crer que ao aferir a intenção de voto de 2 ou 3 mil eleitores, o sistema consiga revelar a tendência de todo o eleitorado brasileiro, composto por 156 milhões de eleitores. Também há a diferença entre pesquisa presencial, telefônica, livre ou estimulada. Na estimulada, por exemplo, poderá levar vantagem o concorrente que tiver o nome citado em primeiro lugar e isso tirar o resultado do contexto. Ainda mais: num número baixo de consultados, qualquer erro – nem precisa ser desvio proposital – pode se projetar de forma devastadora no resultado final.
Como candidato não é mercadoria na prateleira – embora muitos pensem dessa forma – o ideal seria que o eleitorado não fosse bombardeado por informações de difícil ou duvidosa comprovação. Cada eleitor precisará ter tranquilidade e fontes seguras para conhecer os candidatos aos postos eletivos e, com esse conhecimento, votar naqueles que lhes pareçam os melhores. Sem paixão, preferência ideológica ou qualquer outra motivação que não seja a de encontrar o melhor para exercer o mandato de representação popular. Eleição é coisa séria e não pode ser viciada por procedimentos que tirem o eleitor do seu caminho natural porque é do seu voto que dependerão o próximo governo e o Poder Legislativo. Será um desserviço à Nação, se pesquisas duvidosas acabarem influenciando o voto.
Os operadores do Direito dizem que a testemunha (notadamente a fraudulenta) é a prostituta do processo. Reservadas as proporções, a pesquisa que não se sustenta, é a mesma coisa nas eleições.
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves
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