Abstenção, brancos e nulos, os 26% que podem decidir o presidente

A grande corrida começada na segunda-feira, por Lula e Bolsonaro, mira os 32,7 milhões de eleitores (20,94%) que se abstiveram e os 4,6 milhões (5.09%) que votaram branco e nulo. Eles precisam ser motivados a votar e optar por aquele que melhor incorporar suas concepções de Brasil. Além da atração dos ausentes e dos que não atribuíram seu voto a ninguém, as campanhas também terão a tarefa de atrair os 8,4 milhões (7,23%) de votos dados no primeiro turno a Simone Tebet e Ciro Gomes e, se possível, tentar buscar uma parcela da votação atribuída aos nanicos que concorreram à presidência.

Os dois finalistas começaram a receber o apoio dos ex-concorrentes, de governadores e de outras lideranças. Difícil é estimar o quanto isso pode acrescentar ao apoiado, já que os apoiadores não são “donos” dos votos; apenas os receberam no último domingo e não há a certeza de que tenham força para repassá-los. O processo se repetirá nos 12 estados cuja eleição governadora também ficou para decisão em segundo turno, no próximo dia 30.
Numa eleição que promete ser apertada no ainda turno final, espera-se a prática do verdadeiro voto útil pelos eleitores que faltaram ou gravaram branco ou nulo. Que, desta vez, escolham o candidato que lhe pareça o melhor (ou o “menos pior”) e votem nele. Isso pode decidir a eleição, já que os votantes convictos que recolheram num dos finalistas dificilmente optariam pelo seu concorrente.

Para o bom andamento do segundo turno, no entanto, é preciso precaução com as pesquisas. Quem errou em larga escala e pode até ter influenciado nos resultados do último domingo, não merece ser levado a sério. O levantamento das intenções de votos, desde que justo e confiável, é uma eficiente ferramenta para a correção do andamento das campanhas. Mas a sua divulgação da forma que ocorreu nos últimos meses é perniciosa, podendo, após apurações, até configurar-se como crime.

A CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) proposta no Senado é um bom instrumento para modular o setor. Penso que mais do que apurar supostas falhas e delitos infelizmente cometidos, uma investigação dessa envergadura terá mais utilidade se no seu relatório o principal não for as acusações aos errantes, mas o encaminhamento de medidas que evitem a repetição das inconformidades. Precisamos aperfeiçoar a legislação que autoria e regula a realização de pesquisas. Seus consumidores e a sociedade têm de ser protegidos contra fraudes e inconsistências.

Pesquisas e levantamentos de opinião pública são úteis para as decisões empresariais de fabricação, lançamento e distribuição de produtos. Constituem suporte ao planejamento estratégico de empreendimentos públicos e privados e a uma série de ações cujo sucesso é mais plausível quando conhecida previamente a opinião do público-alvo. A prospecção da tendência do eleitorado é, sem dúvida, a menos importante ação no mundo das pesquisas. Mas ganha repercussão devido à polarização dos concorrentes e, principalmente, porque os números apurados são confrontados com o resultado das urnas. Fica explícito quem errou e até concluir se foi apenas erro ou algo mais…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

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