O desastre nas pesquisas eleitorais

Por mais esquisitos que possam parecer, jamais contestarei os resultados das pesquisas eleitorais. Até porque não disponho de conhecimento técnico para dissecá-las. Mas, a vivência de muitas eleições permite prever um desastre assim que as urnas forem abertas. O indicativo disso é a diversidade e até o antagonismo entre as conclusões dos diferentes levantamentos de intenção de votos realizados num mesmo tempo e lugar. Quando muito, apenas um ou dois desses trabalhos coincidirão com a votação apurada, e os demais mergulharão na inconformidade. A perda da credibilidade poderá levar seus realizadores a terem de mudar de ramo ou até encerrar a atividade. As diferenças são tão gritantes que mudar de nome não será o suficiente para salvar a reputação.

É recorrente a justificativa de que pesquisa é o “retrato” de como está o pensamento do eleitor no momento da consulta. O álibi tem socorrido as empresas pesquisadoras errantes. Já vimos pesquisa que apontava a vitória de um candidato por uma margem de 10% e este perdeu por 10%. A diferença foi de 20%. Injustificável.

As pesquisas colocadas a público na atual campanha mais se parecem propaganda disfarçada do candidato preferido da pesquisadora ou supostamente pagador dos custos do trabalho. Os números apresentados podem ser o combustível das tentativas de obtenção do tal voto útil, explorado pelos propagandistas dos candidatos aos diferentes postos em disputa, que tentam arrebatar os potenciais votos dos concorrentes apresentados como inviáveis. Uma terrível mistificação, se confirmada.

Penso que a grande utilidade das consultas de tendência do eleitorado está dentro e não fora das campanhas. Sabendo como o candidato está na intenção dos votantes, seus marqueteiros podem corrigir o curso da propaganda e das ações e com isso sensibilizar maior número de votantes. Para isso, os números têm de ser os mais confiáveis possíveis, o contrário do que parece estar ocorrendo ao no âmbito do material ultimamente divulgado ao grande público.

Apesar de terem regras a cumprir, as consultas eleitorais aparecem em descrédito crescente a cada pleito que se realiza. Pior só mesmo os levantamentos de audiência de rádio e tv que no passado atribuíam 70, 80 e até 90% de audiência a determinadas emissoras, mas não acusavam que a maioria dos receptores da região pesquisada estava desligada.

Para evitar ser mal influenciado, o eleitor deve praticar o voto consciente. Buscar as informações sobre os candidatos a que está propenso a votar e só depois de saber o que fizeram ou deixaram de fazer, decidir o número de quem deverá digitar na urna da Justiça Eleitoral. Pesquisas supostamente manipuladas e marqueteiros regiamente pagos não têm compromisso com a verdade. Por isso é que o eleitor, no próprio interesse e no da sociedade, deve fazer da verdade o instrumento e a razão do seu voto. Vote com consciência para não se arrepender.

Além da eleição – fato principal desse 2 de outubro – teremos a consequência subsidiária, também de grande importância, especialmente para a indústria, o comércio, o mercado imobiliário, os veículos de comunicação e os outros setores que consomem pesquisas para lançar e alavancar seus produtos. Ao confrontar o que disseram os institutos e empresas pesquisadoras, essa seleta clientela terá a verdadeira noção sobre a competência e confiabilidade desses prestadores de serviços. Os que errarem por larga margem tendem a enfrentar grandes dificuldades. Detalhe significativo: pelo que fizeram, a sorte está lançada pois não há mais tempo para reverter informes inconsistentes e a pesquisa boca de urna, realizada no dia das eleições, independente do resultado, não tem força capaz de melhorar a avaliação dos seus realizadores…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

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