Brasil e China, uma promissora parceria

O presidente Lula embarca nesta sexta-feira (24) para a China, levando, em sua comitiva, mais de 200 empresários. A viagem é considerada uma nova tomada de posição do Brasil nas relações internacionais. E merece toda a atenção porque a China é o segundo parceiro comercial do Brasil e, além disso, tem tecnologia disponível e investimentos já implantados em território brasileiro, uma promessa de desenvolvimento em diferentes áreas. Tudo isso, alavancado pela nossa condição de grande fornecedor de ferro e outros minerais consumidos pela manufatura chinesa e, principalmente, pelo agronegócio – produção de grãos e proteína animal – que aquele país necessita para alimentar sua população, de quase 1,5 bilhão de habitantes, a maior do Mundo.

Com sua indústria, que rivaliza com os principais centros de produção, a China consegue colocar no mercado os seus produtos com preços competitivos. Assim tem sido de quinquilharias a engenhos de alta tecnologia. Aquele país participa da corrida mundial pela implantação e desenvolvimento do carro elétrico, que mudará a matriz energética do planeta. O Brasil de dimensões continentais, grande população e indústria automobilística desenvolvida é um dos interessados na matéria. Tanto que já produz localmente veículos desenvolvidos pelos chineses e agora já conta com investimentos da China para o lançamento de novos produtos tropicalizados para o mercado local. A presença dos empresários na viagem presidencial abre-lhes a oportunidade de, cada um no seu ramo de atividade, prospectar parceiros chineses com que possam atuar no Brasil. E dessa forma abastecer o mercado local, além de criar postos de trabalho tanto para brasileiros como para chineses aqui radicados ou que ainda vierem em função das oportunidades.

É importante, porém, lembrar que a China, oficialmente, é um país comunista, onde governa o partido único. Mas também considerar que, para chegar ao atual estágio de potência econômica, os chineses criaram um sistema híbrido, onde não abrem mão dos dogmas ideológicos, mas absorvem o sistema do mercado capitalista. Por isso, seus produtos estão colocados em todo o Mundo e competem com os fabricados localmente.

Para cultivar uma parceria salutar, Brasil e China têm de observar suas convergências e se afastar das divergências. É de se pensar que – independente da ideologia esquerdista de nossos atuais governantes – dificilmente teremos no Brasil um regime de partido único como o da China e que, por razões históricas e estratégicas, e que a China nunca saberá conviver com um ambiente político democrático como o brasileiro, onde temos mais de 30 partidos políticos registrados e mais 70 com pedido de registro. São as diferenças que, para o bem das relações, têm de ser deixadas de lado.

O nosso país tem enfrentado problemas desnecessários decorrentes da saga político-ideológica. Direita e esquerda aqui se digladiam há um século e, nem por isso, conseguiram se colocar hegemonicamente. Pelo contrário, em diferentes momentos, importaram teses e comportamentos dos teóricos de cada lado e não conseguiram fazer essas teses vingar. Ainda recentemente, tivemos a alternância entre esquerda e direita. Teria sido melhor que esse embate não existisse, já que os conceitos são coisas antigas que, na atualidade, nada representam. Vemos países com governos ditos de esquerda com comportamentos e atividades diferentes entre si. O mesmo ocorre nos rotulados como de direita. O ideal seria abandonar o estigma ideológico e cada povo ser governado e viver conforme suas tradições e, principalmente, as conveniências de momento. Velhas teorias não melhoram a vida do povo, que só pode ser mudada com o trabalho firme e acertado do presente que, bem executado, pode até proporcionar o futuro melhor.

Que Brasil e China façam uma boa parceria econômica. Mas acautelem-se para as diferenças políticas não colocarem tudo a perder…

Tenente Dirceu C. Gonçalves

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