O Brasil da discrição e neutralidade

A falta de cuidados do presidente Lula nas declarações – sobre substituição do dólar por outras moedas nas transações internacionais, a pretensa mediação da guerra Rússia-Ucrânia, as críticas às históricas divergências China-Taiwan e o palavrório sobre relações com outros países – tem provocado a irritação dos Estados Unidos, União Europeia e outros parceiros, colocando o Brasil numa grande saia justa, além de trazer problemas à diplomacia, pois difere da política estabelecida pelo Itamaraty para as relações com o Mundo. Vale lembrar que, desde os tempos do Visconde do Rio Branco, nosso País tem uma postura discreta e respeitada por sua neutralidade e não envolvimento em questões alheias. O problema de agora levou o presidente ter de reformular a opinião emitida sobre o conflito Rússia-Ucrânia.

O Chefe de Estado, eleito pelo povo, é o líder do Governo. Mas precisa acautelar-se para não pregar contra os fundamentos do trabalho de seus auxiliares, especialmente na política externa, onde o Brasil tem tradição e posições historicamente colocadas de acordo com interesses nacionais, que nos trouxeram à posição que hoje ocupamos no concerto das nações. Basta um discurso mal colocado para aflorarem os problemas. Daí a inconveniência dos pronunciamentos de improviso e à luz da emoção.

Estados Unidos e China são os dois maiores parceiros comerciais do Brasil. A União Europeia tem grande importância, ao lado de dezenas de outros países que dependem de nossos produtos para movimentar as suas indústrias e alimentar as populações. Na medida em que esses parceiros divergem, o melhor que o governo brasileiro tem a fazer é ficar calado e torcer para que cheguem a um acordo, e só emitir sua opinião quando chamado e verificar a possibilidade de ser útil. Também é inconveniente meter o bedelho nas relações da China com Taiwan e, pior ainda posar de conselheiro informal na guerra (Rússia-Ucrânia) e ainda se dar ao luxo de criticar os países e organismos que apoiam os integrantes do conflito.

Antes dessas escorregadas internacionais, o presidente já amargava o resultado de sua saga anti-bolsonarista que – se continuar – em vez de prejudicar, poderá beneficiar o antecessor. Espera-se que, da mesma forma que existem no governo os incendiários que incentivam a contenda e as declarações histriônicas, os moderados – que também existem no conjunto – assumam o seu papel e forneçam ao presidente o suporte necessário à realização do governo pacífico prometido durante a campanha eleitoral. Bolsonaro, para fins de governo, hoje é carta fora do baralho. As relações internacionais, embora benfazejas, não podem transferir ao Brasil os problemas dos outros países.

Lula e sua equipe têm uma grande tarefa a desenvolver na administração do nosso grande País. Não devem perder seu tempo em perseguir adversários e nem a imiscuir-se nas questões externas, pois estas possuem organismos internacionais com competência técnica e delegação para delas cuidar. Todos nós – os que votaram e os que não votaram em Lula – temos um interesse comum: que o Brasil vá bem, independente de quem esteja no poder. Até porque, se for mal, todos teremos de pagar o preço. Se governar bem, o atual presidente e seu grupo já terão cumprido sua missão. Não têm a necessidade de punir adversários (um dever da Justiça, mediante o devido processo legal) e muito menos de mediar questões internacionais para as quais não foram requisitados…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

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