O carro popular, que embalou a indústria automobilística brasileira e deu rodas a muitos patrícios nas décadas 90 e 2000, volta à pauta de discussões. O Governo acha exagerado um veículo dito popular custar hoje R$ 70 mil, e faz estudos e gestões para conseguir fechar um produto que possa ser entregue ao consumidor por R$ 50 mil. É uma grande discussão, pois os tempos de são diferentes dos de 30 anos atrás, quando a tecnologia não era tão desenvolvida e a globalização menos agressiva. Os fabricantes preferem ter no mercado o produto de ponta e, evidentemente, lucros compatíveis, mesmo que esse veículo não esteja ao alcance do consumidor de menor poder aquisitivo. Não dá para esquecer que recentemente a Ford deixou o Brasil e abriu uma moderna fábrica na Argentina, com toda a insegurança econômica reinante no vizinho país. Devemos ter algum problema insolúvel na visão do setor.
Já que o tema foi colocado à mesa, podemos prever que o veículo de preço mais baixo, embora despojado, possa em algum tempo estar disponível nas concessionárias ou, até colocado em lista para encomendas, conforme já ocorreu no passado. Se ocorrer, será a oportunidade para muitos brasileiros terem acesso ao carro novo, deixando de utilizar os de muitos anos de uso e cheios de problemas, e para outros, que ainda não tiveram o seu veículo, adquirirem o primeiro. Mas o Governo também tem de fazer a sua parte. Um dos fatores que levam o preço dos automóveis às alturas em nosso país é a carga tributária. Os impostos representam em média 42% do preço de um veículo zero quilômetro. Se a voracidade fiscal diminuir, o preço também pode baixar. É a elevada taxação brasileira que, durante muitos anos, levou o veículo produzido no Brasil a ser comercializado a preços muito menores em outros países para onde eram exportados e não havia o enorme apetite fiscal, como o México, por exemplo.
O carro popular é uma estratégia que o Brasil sempre perseguiu com o objetivo de beneficiar a população de baixa renda e os profissionais que dependem do veículo para seu trabalho. Nos anos 60 foram lançados o Fusca pé-de-boi, a DKW Pracinha, o Simca Profissional e o Renault Teimoso, veículos que não traziam cromados e nem acabamento de qualidade. Eram destinados aos mais pobres e a profissionais, mas não chegaram a fazer grande sucesso. Depois, com o lançamento dos veículos de motor inferior a 1000 centímetros cúbicos e impostos menores, veio o sucesso. Eles tomaram o mercado dos outros veículos de potência superior, mas, com o passar do tempo, foram recebendo equipamentos e tornando-se caros, até chegar à situação de hoje quando, num conceito mais amplo, podem ser tudo, menos popular.
A grande diferença entre os momentos é que hoje temos no Brasil a indústria automobilística com produtos no mesmo padrão dos disponíveis em qualquer outra parte do mundo, coisa que não havia no passado. Será um exercício muito grande chegar ao produto popular, quando a maioria das montadoras são estrangeiras e tem seus produtos já consolidados em outros mercados e, até, trazem alguns deles montado em outros países. Ainda há o outro diferencial: o automóvel elétrico, que nasce com relativa força, apesar do preço elevadíssimo.
Ao lado de perseguir o objetivo de apresentar o carro zero quilômetro por R$ 50 mil, os técnicos governamentais não devem se esquecer para a atenção ao elétrico, que deverá ser o futuro do transporte no País. Façam também esforços para que eles possam chegar a preços mais módicos ao grande público consumidor. É preciso abrir mão de sofisticações, providenciar crédito ao consumidor e, principalmente, reduzir os impostos ou, então, nada feito. O novo carro popular – à explosão ou elétrico – não passará do sonho…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves
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