Crônica: Arroz soltinho

Rodrigo Alves de Carvalho

Por Rodrigo Alves de Carvalho 

Metas e objetivos na vida, em muitas ocasiões são os combustíveis que nos fazem acordar de manhã todos os dias, dispostos a darmos o nosso melhor para que nossa existência tenha algum significado. A cada conquista, a cada meta cumprida, nos engradecemos um pouco mais, nos tornando, de certa forma, seres humanos mais completos e melhores.

Todos temos metas em nossas vidas, desde que éramos crianças, como jogar futebol no time do coração, ser vocalista de uma banda de rock de sucesso, ser um veterinário, um médico, um hippie etc.

Claro que nem todas as metas são conquistadas, muitas vezes, as metas acabam mudando conforme os anos vão passando, ou quando vamos entendendo melhor, que algumas metas não são necessariamente aquilo que realmente nos tornarão realizados. Dessa forma, outras metas e objetivos são estabelecidos, e assim, a vida continua, enquanto o mundo gira.

Aloisio era uma dessas pessoas que sempre estabeleceu metas em sua vida. Porém, nunca desistiu no meio do caminho ou mudou de ideia em relação àquilo que buscava. A partir do momento em que se tornou independente, aos 18 anos e passou a trabalhar, Aloisio determinou metas em sua vida, e enquanto não realizava cada uma, se tornava obsessivo e meticuloso, até chegar à conclusão daquilo que buscava.

Foi assim até juntar dinheiro e comprar seu primeiro carro e tirar sua habilitação, foi assim, investindo o que ganhava e abrindo uma agência de viagens, foi assim até conquistar a mulher de sua vida, comprar uma bela casa, casar-se…

Mas, havia três coisas que Aloisio sempre postergou, porque considerava outras metas mais importantes, entretanto, depois que praticamente conquistou tudo o que almejava, decidiu se dedicar a cumprir essas três metas, que eram: aprender a nadar, aprender a dançar e aprender a fazer arroz soltinho.

Aloisio era como uma pedra dentro de uma piscina, mas como poucas vezes se arriscou entrar na água, aprender a nadar sempre ficou em segundo plano. Também era um bonecão de posto de gasolina quando o assunto era dançar, muitas vezes, ficava apenas mexendo a cabeça no meio do salão ou em festas, porque não sabia sequer os dois pra lá e dois pra cá.

Mas o pior era na hora de fazer arroz. Mesmo com todas as medidas anotadas, o resultado final era sempre uma papa molhada e pegajosa.

Após muito treino e dedicação, Aloisio conseguiu aprender a nadar, pelo menos, conseguia atravessar a pequena piscina em seu sítio sem afundar. Logo depois, já arriscava conduzir sua esposa dançando country e forró, inclusive, com rodopios e perninha do lado.

Porém, o arroz soltinho Aloisio não conseguiu fazer. Tentou centenas de vezes, de todas as maneiras em várias panelas e fogões diferentes, com várias marcas e variedades de arrozes diferentes, e o resultado era sempre uma papa. Contratou chefs de cozinhas e cozinheiras experientes para lhe ensinar, mas no momento em que iria finalizar o cozimento, o arroz empapava.

Após muitos anos de tentativas fracassadas, Aloisio desistiu dessa meta e estabeleceu outras em sua vida, ao qual realizou uma a uma.

Contudo, no fundo de sua alma, sempre carregou essa decepção de se achar um fracassado, por nunca ter conseguido fazer um arroz soltinho.

Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino.

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