O Rio Araguaia atravessa quatro estados e, com os afluentes, forma a maior bacia hidrográfica totalmente brasileira, responsável por abastecer grande parte do Centro-oeste e do Norte do país
Pesquisadores de duas universidades alertam para situação crítica de uma das bacias hidrográficas mais importantes do Brasil.
Eunice Pinto Gomes mora na margem do Rio Araguaia desde que nasceu. Pelo menos uma vez por semana, ela pega o barco e sai à procura de peixes para se alimentar e para vender. A ribeirinha já percebeu que o entorno do rio está passando por mudanças.
“O homem desmatou, né? Tirou a chuva. Porque você sabe que se a árvore acabar, as chuvas também vão diminuindo, né? O interesse da gente é que venha reflorestar porque aí vem a chuva e esse rio não vai faltar água”, diz.
O Araguaia atravessa quatro estados e, com os afluentes, forma a maior bacia hidrográfica totalmente brasileira, responsável por abastecer grande parte do Centro-oeste e do Norte do país.
A região tem períodos bem definidos que duram praticamente seis meses cada. Na seca, bancos de areia surgem ao longo do rio e, na cheia, as chuvas trazem de volta o fluxo de água.
Dois estudos recentes acendem um alerta sobre a Bacia do Araguaia. As pesquisas indicam que, cada vez mais, esse rio tem dificuldades para recuperar o fluxo de água nos períodos de chuva e a qualidade da água também está pior a cada ano que passa.
O estudo sobre o volume de água é da Universidade de Brasília. Os pesquisadores analisaram dados sobre a superfície de água e a vazão da correnteza nas 21 estações de monitoramento desde 1980. A conclusão foi de que, nos últimos 40 anos, o rio perdeu em média 40% da vazão e entre 40% e 67% da superfície de água, dependendo da parte do rio que é analisada.
“Nós vimos também que existe uma correlação forte entre redução de superfície de água com o aumento do desmatamento e da quantidade de áreas irrigadas. É necessário, primeiro, voltar a reflorestar. Pensar em uma forma de retirada da água do rio com um certo controle, que permita a vazão ecológica do rio. Um acompanhamento em tempo real do que está sobrando no rio”, acredita o professor da UnB Ludgero Vieira.
A outra pesquisa é da Universidade Federal do Mato Grosso. Amostras de água foram colhidas no Araguaia e nos afluentes para testar a qualidade.
“A gente constatou que existe contaminação ambiental. Ou seja, que existe a contaminação por agrotóxicos. Em baixa concentração, mas o que mais chamou a atenção nesse estudo é que a gente encontrou contaminação ambiental em todas as sub-bacias estudadas, mostrando que a contaminação tá bem difundida aqui na região”, conta o professor da UFMT Dilermando Pereira Lima.
O Ministério do Meio Ambiente declarou que o plano de ação para prevenção e controle do desmatamento e das queimadas no Cerrado constatou a redução da vazão de rios monitorados, e que propôs um pacto com governadores dos estados do Cerrado para combater o desmatamento e implementar ações conjuntas de preservação.
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