O presidente Lula enfrenta aquele que, talvez, seja o momento mais tenso do seu Terceiro mandato à frente do País. Pressionado pelas preocupações da comunidade econômica, ele abortou a viagem que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, seu fiel escudeiro, faria ao exterior e chamou reuniões para definir o quê eliminar ou, pelo menos, diminuir na gastança. Haddad e Simone Tebet – ministra do Planejamento – estão encurralados na posição de quem tem a tarefa de emagrecer o desencaixe financeiro do governo e enfrentam a reação, tanto explícita quanto velada, dos titulares dos ministérios escalados para a fazer a economia capaz de colocar o cofre federal dentro de níveis razoáveis. .
A rebelião vem das chamadas pastas sociais e tem por objetivo blindar os gastos com Previdência Social, Trabalho e assistência aos vulneráveis, setores-chaves de um governo como o atual, chefiado por um sindicalista que adotou como direção ser alguém como um tipo de pai dos pobres. Os ministros dessas áreas adiantam que elas não podem sofrer redução de recursos, pois deixariam de cumprir as finalidades. E o fazem dentro da visão de governo eleitoreiro gastador cultivada pelo presidente. As diferentes declarações vazadas sobre o corte de gastos mostram cada ministro e seus auxiliares próximos dizendo não terem o que cortar e apontando outras áreas que poderiam ser abordadas pelo facão de Lula, Haddad e Tebet. Parece que todos sabem onde mora o problema, mas ninguém quer pagar o preço de removê-lo.
A rigor, é muito fácil dizer que vai cortar o déficit do governo achatando os proventos de aposentados e socorridos sociais, que pouco ou nada podem fazer contra a medida. Difícil é combater ou pelo menos modular as somas astronômicas que o Tesouro libera para a sustentação dos partidos políticos, das emendas parlamentares que finalmente agora encontram questionamento no Supremo Tribunal Federal, e os elevados salários turbinados por penduricalhos de todos as matizes entregues aos notáveis da República que já ganham o teto – R$ 44 mil mensais (salário igual ao de ministro do STF) – mas tiveram e ainda têm liberdade para adicionar aos seus holerites os penduricalhos (auxílios dos mais variados e injustos, porque o povo não tem nada disso) que ficam fora da classificação salarial e, por isso, são do tamanho do apetite do recebedor ou de sua classe.
Desde 1998 – ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso – existe o teto salarial dos servidores públicos federais equivalente aos salários do ministro do STF. Mas seguidamente e cada dia mais somos bombardeados pelas informações de que esse ou aquele figurão do Judiciário, do Executivo ou até do Legislativo, auferiu no mês passado um salário que supera o milhão de reais. É ganho, mas para atrapalhar o teto salarial, a classificação não é salário. Se realmente querem resolver o problema do déficit, Lula, Haddad, Tebet, os congressistas e todos os demais que exercem liderança neste País, precisam colocar o dedo na ferida. Muitas vezes até na própria ferida, mas buscar a realidade econômica do erário nacional.
Em vez de reuniões em Brasília para verificar qual peixe pequeno será pescado para diminuir o déficit, é preciso fazer um movimento nacional para a caça aos tubarões que numa só mordida levam os recursos capazes de satisfazer o apetite de grandes cardumes. Conter gastos desnecessários não somente em veículos, viagens e outros quetais, mas coisas como, se noticiou nos últimos dias como a instalação de um salão de beleza numa repartição de Brasília para atender aos seus caciques que, pelo nível salarial, poderiam buscar esse serviço no mercado, pagar do próprio bolso e não utilizá-los no horário de trabalho.
Haddad e Tebet já disseram que tudo o que podia ser feito em otimização de arrecadação para contribuir na redução do déficit, já foi aplicado. Agora é preciso ter discernimento e coragem para cassar os privilégios dos marajás. Os eleitos e os nomeados de altos postos devem isso à Nação que, na posse, juraram defender e trabalhar pela regularidade e desenvolvimento.
As notícias sobre o desequilíbrio da economia brasileira são nocivas, fazem o dólar subir de preço e afugentam o investidor. Capitais, em vez de entrar para alavancar nossa economia, migram para o exterior para turbinar outros países e neles lucrar. Oremos para que as reuniões sobre o corte de déficit em Brasília cheguem à melhor das conclusões, as reais causas do buraco sejam identificadas e hajam condições para o seu eficiente combate.
Lula tem o dever de manter o equilíbrio da Economia, que nada mais é do que o conjunto dos produtores e dos consumidores. Como governante, não deve privilegiar um nem o outro, mas fazer todo o possível para que ambos possam desenvolver o melhor em suas atividades. Feito isso, resolverá a maioria dos problemas da comunidade (Saúde, Educação, Segurança e etc). A Nação espera que tenha ele sensibilidade para fazer o melhor sem tirar e nem dar nada a nenhum dos segmentos, mas trabalhando firme para oferecer-lhes condições de produção e desenvolvimento. Que seja capaz de resolver com racionalidade a questão da gastança e, finalmente, consiga domar o déficit, Tenha o devido jogo de cintura para resolver o problema da melhor forma, nunca se esquecendo do velho ditado interiorano: “Evitar sacrificar o cervo, mas jamais deixar a onça passar fome”, pois isso seria muito perigoso. É difícil, mas pode ser a única saída para o quadro caótico do momento…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
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