A guerra econômica e o destino do Mercosul

A criação protecionista de novos impostos, pelos Estados Unidos, sobre os produtos que aquele país importa, sem levar em consideração que a economia é a arte da negociação entre às partes interessadas, arrasta o Planeta Terra para uma guerra econômica cujas consequências são, até o momento, imprevisíveis. O presidente Donald Trump, que assumiu o governo em 20 de janeiro, decretou tributos da ordem de 25% sobre os produtos importados – inclusive o aço e o alumínio brasileiros – e isso está levando os parceiros de negócios a, como represália, também taxar aquilo que importam dos americanos. É o “tarifaço de Trump”, cujo primeiro resultado é forçar a inflação, pois, além do custo, as mercadorias ainda são gravadas pelos impostos que pagam aos países produtores e consumidores.

A guerra fiscal estabelecida tende a apresentar diferentes efeitos colaterais. O principal deles poderá atropelar o Mercosul (Mercado Comum do Cone Sul), constituído por Argentina, Brasil, Paraguai, Bolívia e outros países sulamericanos. O presidente argentino, Javier Milei, adversário político e ideológico de Lula, acaba de declarar que a participação no organismo tem sido prejudicial ao seu país e que só lucraram até agora o Brasil e os empresários brasileiros. Por isso, sua idéia é abandonar o organismo e buscar um acordo econômico bilateral com os Estados Unidos que possa ser mais favorável à Econômica portenha. Se isso acontecer, um dos setores brasileiros que se prejudicarão é o da indústria automotiva, que fornece grande número de veículos e peças para a renovação e manutenção da frota argentina.

Criado em março de 1991, o propósito do Mercosul é a união das forças econômicas dos países membros através da montagem de acordos de cooperação comercial entre os países da região e grandes países ou blocos – especialmente os Estados Unidos e a Comunidade Europeia. Mas não tem sido possível a concretização dos negócios, principalmente por oposição da França e outros membros da Comunidade Europeia, São mais de 20 anos de negociações que não chegaram ao objetivo. Nos últimos anos, o Uruguai tentou firmar um acordo comercial diretamente com a China mas também não chegaram a uma conclusão.

Entre os problemas do Mercosul está a diversidade econômica de seus países-membros. Tem sido difícil a celebração de acordos entre o agronegócio da Argentina e do Brasil e os interesses dos outros países, de economia diversificada. Recentemente mais um problema se contabilizou na tentativa de filiação da Venezuela, que acabou impedida de entrar por não conseguir comprovar ser um país democrático, conforme exigem os regulamentos do grupo.

Brasil e Argentina são os dois principais sócios e até hoje mantêm o Mercosul através do comércio bilateral. Mas nem isso tem sido sustentável, a partir dos últimos anos quando a Economia argentina entrou em colapso e hiperinflação e Javier Milei ganhou a eleição em Buenos Aires contra os esquerdistas peronistas e kircheristas, que na época receberam o apoio de Lula e do Brasil. Se prevalecer a oposição francesa ao acordo com a Comunidade Europeia, o Uruguai ainda viabilizar negociações com a China e Milei promover a retirada da Argentina, o Mercosul estará fadado à inviabilidade. Seus países terão de negociar sua economia de forma unitária e toda a noção de conjunto econômico não passará de um sonho sonhado há três décadas, que não conseguiu sair do papel.

Para manter o bloco econômico, seus países-membros não poderão continuar em dissidência. Pelo contrário, devem realizar estudos que revelem os interesses comuns dos membros ou de parte deles para, com esses dados e tendências, buscar parcerias com as demais regiões e organismos econômicos internacionais. O regime de desconfiança ultimamente verificado na região jamais permitirá que o organismo regional se torne realidade. Principalmente no mundo econômico de hoje, onde os EUA acabam de acender o estopim da guerra econômica, a Comunidade Europeia cede à França na oposição ao acordo com o Mercosul, e a China – que investe alto e isoladamente nos países da região (inclusive o Brasil) tenta jogar sozinha em busca da hegemonia político-econômica.

Infelizmente, sem uma reengenharia político-econômica, o Mercosul tende a se aprofundar na crise. Os que eventualmente lucram com sua existência deveriam tomar providências salvadoras, se não quiserem ter de mudar de ramo… a economia globalizada não socorre quem prevarica.

A nossa incorrigível visão positiva sobre as modificações do mundo e da sociedade, nos autoriza neste momento a pensar que a guerra econômica provocada por Trump é, na verdade, uma revolução. Que obrigará os Estados Unidos a tratar melhor e mais seriamente os parceiros e levará todas as nações desenvolvidas ou em desenvolvimento a se reposicionarem no trato da Economia. O resultado, sem dúvida, será bom e apontado para o bem-estar e o desenvolvimento dos povos. Principalmente daqueles, hoje acomodados em poéticos, inoperantes e preguiçosos berços esplendidos que a ideologia e os comportamentos duvidosos levaram a cometer atos indevidos e predatórios aos interesses coletivos. Tudo ficará bem. Estejam certos disso. Sobreviva (ou não) o Mercosul…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)

tenentedirceu@terra.com.br

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