O que mais marcou os carnavais de minha infância não foram os bailes picantes da TV Manchete, que minha mãe proibia terminantemente de assistir, ou até mesmo, as alegres matines no clube da cidade, esses liberados pela minha mãe. O que ficou na memória daqueles carnavais dos anos oitenta foram os mascarados.
Durante os dias de festa, ou melhor, durante as noites carnavalescas, as ruas eram invadidas por assustadores mascarados horripilantes.
Usando capuzes, panos e lençóis, os mascarados saiam pelas ruas com pedaços de pau, chicotes e cabos de aço faiscantes. Aquilo era o terror para a criançada e ao mesmo tempo, uma diversão arriscada.
Os mascarados vagavam pelos bairros da cidade em pequenos grupos, às vezes, se juntavam a outros grupos e a balburdia aumentava.
Como éramos corajosos e aventureiros, os moleques da rua se arriscavam toda noite em insultar os mascarados.
Chamava-os de bobos, afeminados, não eram de nada etc. toda forma de deixá-los enfurecidos para correrem atrás da gente.
E a correria era geral.
Insultávamos, eles corriam com seus pedaços de pau e ferros para nos pegar e entrávamos para dentro de casa. Era assim a noite toda.
Avistávamos um grupo de mascarados se aproximando pela rua perto de nossa casa e os xingamentos começavam, quando nos ignoravam, seguíamos por uma distância segura e de tanto encher o saco, os mascarados voltavam de repente e corriam para nos pegar. Éramos moleques, mas acredito que nessa hora, corríamos uns cem metros mais rápido que o Usain Bolt.
Na segurança de nossa casa, os mascarados não entravam, ficavam no portão rosnando e ameaçando com suas armas. Essa era a diversão tanto para a criançada, como para eles.
Uma vez, decidimos sair de mascarados no carnaval, queríamos assustar as pessoas. Juntamente com meu irmão e um vizinho, cortamos um saco de estopa e fizemos as máscaras. A não ser pelo inconveniente que a estopa fazia nosso rosto coçar, estava tudo bem, o problema foi que pintamos as máscaras com tinta guache para ficarem mais assustadoras. Ao vestirmos à noite para sairmos às ruas, não aguentamos o cheiro de tinta, passamos mal e quase desmaiei.
Após esse infeliz incidente, desistimos de nossas intenções de assustarmos as outras crianças como mascarados. Até porque, correr deles era muito mais legal.
Pena que essa brincadeira também acabou nos nossos carnavais.
RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.
Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais.
Seja o primeiro a comentar sobre "Crônica: Mascarados"