Por Rodrigo Alves de Carvalho
No mundo das cores, a história sempre acontece de forma cíclica, ou seja, se repete regularmente com algumas alterações nos tons, nuances ou matizes, porém, desde de que me lembro, existe uma certa hierarquia, um certo mais do mesmo entre as cores mais poderosas e que governam esse mundo multicolorido.
Entretanto, sempre havia aceitação pela cor predominante, democraticamente escolhida pelas demais cores para ser o líder e conduzir esse mundo para novas tonalidades e novos horizontes tingidos com as cores do desenvolvimento e justiça social para todas as classes, seja desde as lusco-fuscos até para as mais intensas e brilhantes, mesmo que surgisse em algumas ocasiões, uma opção pouco usual, mas que prometia novos e melhores tingimentos.
Acontece que de um tempo para cá, acompanhamos uma polarização das cores, mais que isso, o amor e o ódio ditam as regras nessa nova ordem, deixando outras possiblidades fora do espectro de cores, em suma, não há mais uma paleta de novas opções.
Hoje, ou você apoia o Azul-Marinho e odeia o Amarelo-ouro, ou você apoia o Amarelo-ouro e odeia o Azul-marinho.
Os seguidores do Azul-marinho tentam a todo custo permanecer no poder, enquanto os seguidores do Amarelo-ouro jogam de todas as formas (lícitas e ilícitas) para derrubar o Azul–marinho, e da mesma forma, os Amarelos-ouros buscam derrubar os Azuis-marinhos, quando estes chegam ao poder.
As demais cores, pobres joguetes desse jogo de poder, são praticamente engolidos por esse sistema e não conseguem perceber que na verdade, tudo não passa de uma manobra, um direcionamento executado pelos próprios detentores do poder, seja do lado do Azul-marinho, seja do lado do Amarelo-ouro, para que o poder continue se alternando entre esses dois grupos e que o mundo não possa ser colorido em novas tonalidades.
Pior é percebermos o fanatismo colorido. Cores que brigam até mesmo com os tons da mesma família (já vi discussões acaloradas de Rosa-bebe com o Rosa-choque por defenderem lados diferentes).
O mais difícil disso tudo é imbuir na mente dessas cores, sejam primárias ou secundária, que essa polarização faz parte do plano, e enquanto elas discutem entre si e acabam apoiando uma das duas cores que brigam pelo poder; somente essas duas cores permanecerão no poder, sem dar chances para outras possiblidades coloridas, outras ideias, outros projetos, outras variações etc.
E enquanto essas cores viverem sobre o comando dos mesmos de sempre, defendendo muitas vezes o indefensável, como reles fantoche, o mundo continuará sem perspectivas, incolor e sem graça.
RODRIGO ALVES DE CARVALHO nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta, possui diversos prêmios em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas promovidas por editoras e órgãos literários. Atualmente colabora com suas crônicas em conceituados jornais brasileiros e Blogs dedicados à literatura.
Em 2018, lançou seu primeiro livro intitulado “Contos Colhidos”, pela editora Clube de Autores. Trata-se de uma coletânea com contos e crônicas ficcionais, repleto de realismo fantástico e humor. Também pela editora Clube de Autores, em 2024, publicou o segundo livro: “Jacutinga em versos e lembranças” – coletânea de poemas que remetem à infância e juventude em Jacutinga, sua cidade natal, localizada no sul de Minas Gerais.
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