Perdoar faz bem para a saúde física e mental

Foto: Reprodução/Ilustração

O perdão é o resultado de uma ação humana, de um processo mental bastante complexo e, também, um aspecto da nossa personalidade de muito enriquecimento, o qual visa a eliminação de qualquer ressentimento, raiva, ódio, aversão, antipatia ou outro sentimento negativo sobre determinada pessoa ou por si mesmo. Etimologicamente, a palavra “perdão” deriva do latim perdonare e significa a ação de perdoar, ou seja, aceitar ou pedir desculpas; redimir-se em relação a algo de “errado” ou que nos incomoda.

A compreensão do conceito atualmente tem ganhando novo impulso no meio científico sendo que o interesse e o financiamento mundial de pesquisas sobre o perdão trouxeram um corpo de conhecimento partindo de uma perspectiva multicultural para muitas áreas do saber, as quais querem entender melhor como o perdão poderia ser clinicamente útil para a nossa saúde, para a nossa prática de ensino (inclusive com crianças), e sobretudo, para se viver num mundo tão violento e tão cheio de ódio como tem sido o nosso nos dias atuais. 

Em recente visita ao Brasil pra uma conferência da série Fronteiras do Pensamento no ano passado, a viúva de um dos maiores líderes da história da humanidade, Nelson Mandela, a Sra. Graça Machel, hoje com 73 anos, disse que “o aspecto superior da personalidade de Nelson Mandela foi ter sabido perdoar”. Ela também afirmou que “perdoar não significa necessariamente esquecer. É preciso manter vivas as lições do passado para que o mal não seja retornado”. 

Pesquisadores que desenvolvem e trabalham com a teoria evolutiva afirmam que o conjunto de adaptações cognitivas humanas pode incluir sistemas de perdão. Segundo esses pesquisadores, os sistemas de perdão regulam a motivação interpessoal em relação a um transgressor na chamada “esteira do dano”.

Embora a pesquisa comportamental geralmente apoie este modelo evolutivo de perdão, as afirmações do modelo não foram examinadas suficientemente através da neurociência disponível, nem a pesquisa neuro científica em voga examinou suficientemente o perdão sob a ótica evolucionista.

No entanto, podemos entender que o perdão engloba atributos multiculturais que centram se na harmonia do grupo, restabelecem as conexões harmoniosas entre as pessoas e a moralidade de considerar os outros como dignos de amor e compreensão.

 Outros três atributos importantes do perdão são o abandono de uma resposta negativa, substituindo a resposta negativa por uma resposta benevolente e trata-se de um processo que ocorre ao longo do tempo. As descobertas de algumas pesquisas também revelaram os traços cognitivos, emocionais e até mesmo espirituais de perdoar as pessoas, incluindo ser orientado pela fé. É necessário ter mais empatia e entender o significado do perdão, que é deixar que as emoções negativas fiquem para trás, ou então, sejam deixadas de lado. 

Por isso que principalmente a autocompaixão e o perdão têm sido implicados no curso de algumas doenças em saúde mental, com evidências sugerindo uma associação entre maior autocompaixão e menor sofrimento emocional. Os benefícios de perdoar parecem ser muitos. Os estudos relatam associações significativas entre níveis mais altos de perdão e autocompaixão e níveis mais baixos de automutilação ou ideação suicida, por exemplo.

Estudos sugerem que a autocompaixão ou o auto perdão podem enfraquecer a relação entre os eventos negativos da vida e a autoflagelação. Parece existir também uma relação entre o processo de perdão e os resultados de sintomas depressivos, ou seja, a presença de sintomas depressivos é um preditor da redução do perdão interpessoal, e o alívio dos sintomas depressivos dos indivíduos desempenha um papel protetor no processo adaptativo das relações interpessoal.

Uma das boas notícias é que o perdão ou a chamada predisposição ao perdão podem ser algo que podem ser treinados ou desenvolvidos. Esta predisposição ao perdão pode estar associada a baixos níveis de burnout, por exemplo. Além disso, o burnout do trabalho está ligado à ansiedade e depressão. Esta predisposição ao perdão poderia ser uma potencial solução para a influência deletéria desse transtorno.

Em resumo, perdoar faz bem à saúde física e mental. Se isto é tarefa fácil? Bem, é o que temos que descobrir! Mas acho que certamente vale muito a pena sempre tentar e persistir em prol de uma cultura de paz e de uma comunicação não violenta num mundo contemporâneo, que deveria nos conectar pelas coisas que somos iguais, mas também pelas diferenças que construímos e que somos. 

Por Alessandra Diehl, psiquiatra

Seja o primeiro a comentar sobre "Perdoar faz bem para a saúde física e mental"

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado.


*