Silval entrega comparsas em esquema e detalha função de cada um

Silval entrega função de Marcel, Chico, Cordeiro, Rodrigo e Faiad dentro do grupo criminoso existente no governo (Foto: Reprodução)

Nos interrogatórios colhidos na Delegacia Especializada de Crimes Fazendários e Administração Pública, o ex-governador Silval Barbosa (PMDB) revelou qual era a função e a posição de cada um dos componentes da organização criminosa da qual ele é apontado como líder.

A situação foi detalhada no último dia 1º, e está disponível na decisão da juíza da 7ª Vara Criminal de Cuiabá, Selma Arruda, que concedeu a liberdade ao ex-governador e seu “braço direito”, o ex-chefe de gabinete Sílvio César Correa Araújo, nesta terça (13). 

Silvio César Correa Araújo é classificado por Silval como seu “braço direito”. Trata-se do ex-chefe de gabinete e pessoa de extrema confiança do ex-governador, que recebia diversas missões no interesse da organização criminosa, como arrecadar propina, realizar pagamento de dívidas, transações com alguns operadores financeiros, fazer reuniões com empresários e controlar os pagamentos da propina.

Além dele, Silval cita o ex-secretário chefe da Casa Civil Pedro Nadaf, que o auxiliou na campanha de 2010, com apoio político e financeiro, bem como exerceu função estratégica importante na abordagem de empresários para levantamento de recursos. Segundo o ex-governador, Nadaf exercia a função de levantar fundos para pagamento das dívidas e dos compromissos políticos ilícitos, “eis que muitas vezes era necessário o pagamento de propina para manutenção da governabilidade do Estado”.

No interrogatório, Silval menciona o procurador aposentado Francisco Gomes de Andrade Lima, conhecido como Chico Lima. Ele atuava na Casa Civil sob o comando de Nadaf e teria recebido a incumbência de emitir pareceres nos processos de interesses ilícitos do governo, tendo recebido igualmente propina em alguns casos.

A respeito do ex-secretário estadual de Administração César Roberto Zilio, Silval conta que ele seria o responsável pela contabilidade da campanha, tanto na Gestão Blairo Maggi (PP) como no governo dele. De acordo com o peemedebista, Zilio exercia o papel de articulador entre empresários e o governo.

Era da confiança de Silval e teria atuado na SAD com função de cobrar os recebimentos de propina de empresários que mantinham contatos com o Executivo. “César repassava para o acusado Silval a propina que era utilizada nos pagamentos das dívidas de campanha”, diz trecho do documento.

Já em relação ao ex-secretário-adjunto Pedro Elias Domingos de Melo, Silval detalha que ele o auxiliou durante a campanha para o pleito de 2010 e, por isso, foi nomeado para um cargo de gabinete. Em 2013 foi nomeado como secretári-adjunto na SAD, sendo que em 2014 passou a ser o titular da pasta. Conforme o ex-governador, Pedro Elias cumpriu o mesmo papel de Zílio, sendo que, em alguns casos, repassou valores para Rodrigo Barbosa, filho do peemedebista, e outras vezes para Silvio.

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Silval Barbosa ficou preso por quase 2 anos no CCC ( Foto: Paulo Vitor Fanaia)

Consta no despacho de Selma, que este Valdisio Juliano Viriato trabalhou desde a época da Assembleia com Silval. Quando o ex-governador assumiu o Paiaguás, Valdisio passou a exercer cargo de confiança como secretário-adjunto da secretaria estadual de Infraestrutura e teria sido incumbido de fazer a arrecadação de propina na Sinfra, das empreiteiras que tinham relação com o Estado.

Ele também teria repassado os valores arrecadados tanto para o ex-governador quanto para Silvio e Nadaf. A reportagem não conseguiu localizar o contato da defesa de Valdísio.

Em relação ao ex-titular da Sinfra Arnaldo Alves de Souza, Silval relata que ele supostamente atuava em situações em que havia necessidade de alocação de recursos no orçamento, suplementação orçamentária, de modo a atender os interesses criminosos da organização. No caso das desapropriações, Silval diz que, quando foi necessária a suplementação orçamentária para os pagamentos, Arnaldo tinha ciência de que as desapropriações tinham finalidades escusas.

Além disso, a mando do ex-gestor, Arnaldo teria aderido a uma licitação de uma determinada empresa para o fim de recebimento de propina destinada também a pagamento de dividas de campanha. O entrou em contato com o advogado Saulo Gahyva, mas a chamada foi encaminhada para a caixa de mensagem. Em seguida, ele mandou mensagem com o seguinte conteúdo: “Desculpe, agora não posso atender”. A defesa de Arnaldo afirma que só vai se pronunciar após conhecer o teor dos autos.

Sobre Afonso Dalberto, Silva afirma que ele foi presidente do Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat) e “de atuação preponderante nos três processos ilícitos de desapropriação”. Também como ordenador de despesas, teria pagamentos referentes a essas desapropriações, tudo para beneficiar a organização.

Já em relação ao ex-secretário-adjunto da SAD José de Jesus Nunes Cordeiro Silval diz que nunca tratou de assuntos diretamente com ele, mas que ele se reportava a Sílvio. A reportagem não conseguiu localizar o contato da defesa de José de Jesus.

Sobre o filho, Rodrigo da Cunha Barbosa, Silval diz que ele recebia propina de algumas empresas que mantinham contrato com o governo através de Pedro Elias.

Nadaf exercia a função de levantar fundos para pagamento das dívidas e dos compromissos políticos ilícitos

Marcel

Ex-secretário estadual de Fazenda, Marcel de Cursi tinha, conforme o peemedebista, papel importante na elaboração de leis e decretos que atendessem aos interesses do grupo criminoso. Marcel também efetuava pagamentos por meio da Sefaz, das suplementações elaboradas pela secretaria estadual de Planejamento, como, por exemplo, as desapropriações em 2014, que visavam recebimento de propina do grupo.

Ele teria sido ainda o responsável por implementar a fruição de benefícios fiscais concedidos de forma irregular pela Sicme e conceder tratamento tributário diferenciado para alguns empresários, a pedido de Silval. A defesa de Marcel, patrocinada pelo advogado Marcos Dantas, nega as imputações feitas ao ex-secretário.

Francisco Faiad

Foi advogado de Silval desde em que o peemedebista era deputado estadual e foi nomeado para ocupar o cargo de secretário na pasta de Administração. Silval relata que, na campanha de 2012, quando Faiad foi candidato a vice-prefeito na chapa de Lúdio Cabral (PT), recebeu auxílio financeiro e doação de combustível no montante de R$ 600 mil, frutos de desvios de dinheiro público.

O ex-governador ressalta ainda que Faiad tinha pleno conhecimento da origem ilícita de tal doação, assim como o Lúdio. Ao , o advogado diz que só vai se manifestar sobre o assunto quando ler o depoimento de Silval.

Fonte: Eduarda Fernandes e Bárbara Sá

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