Onofre Ribeiro
Venho acompanhando com muito interesse a polêmica que gerou no meio do agronegócio brasileiro a letra do samba-enredo da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense pro carnaval de 2017. Ouvi o samba-enredo. A letra foi composta por Moisés São Tiago, Adriano Ganso, Jorge do Finge e Aldir Senna.
O seu conteúdo não vai além das tradicionais polêmicas na histórica e conflituosa relação do branco com os índios do Xingu. Reproduzo abaixo a letra completa do samba. Aliás, uma bela poesia. Caberá ao leitor julgar.
“Xingu, O Clamor Que Vem da Floresta (Samba-Enredo 2017) – G.R.E.S. Imperatriz Leopoldinense (RJ)
Brilhou a coroa na luz do luar! / Nos troncos a eternidade a reza e a magia do pajé!
Na aldeia com flautas e maracás/ Kuarup é festa, louvor em rituais
Na floresta, harmonia, a vida a brotar/ Sinfonia de cores e cantos no ar
O paraíso fez aqui o seu lugar/ Jardim sagrado, o caraíba descobriu
Sangra o coração do meu Brasil/ O belo monstro rouba as terras dos seus filhos.
Devora as matas e seca os rios/ Tanta riqueza que a cobiça destruiu!
Sou o filho esquecido do mundo/ Minha cor é vermelha de dor/ O meu canto é bravo e forte/ Mas é hino de paz e amor!
Sou guerreiro imortal derradeiro/ Deste chão o senhor verdadeiro
Semente eu sou a primeira/ Da pura alma brasileira!
Jamais se curvar, lutar e aprender/ Escuta menino, Raoni ensinou
Liberdade é o nosso destino/ Memória sagrada, razão de viver
Andar onde ninguém andou/ Chegar aonde ninguém chegou
Lembrar a coragem e o amor dos irmãos/ E outros heróis guardiões
Aventuras de fé e paixão/ O sonho de integrar uma nação
Kararaô, Kararaô, o índio luta por sua terra/Da Imperatriz vem o seu grito de guerra!
/Salve o verde do Xingu, a esperança/ A semente do amanhã, herança/ O clamor da natureza a nossa voz vai ecoar/ Preservar!”
Exceção da citação dos “caraíbas”, que não se especifica a data, confesso que não enxerguei o preconceito contra o agronegócio que está gerando tanta confusão. Mas, contudo, penso que pode ser um alerta pro setor se posicionar melhor frente à opinião pública nos grandes centros. La gente urbana enxerga de longe uma natureza que nunca viu e nem faz ideia do que seja. Nem como se produzem os alimentos que comem e bebem. Nada é de todo perdido numa discussão!
Onofre Ribeiro é jornalista em Mato Grosso
onofreribeiro@onofreribeiro.
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