O impasse entre PMs e o governo capixaba

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

Enquanto o governo do Espírito Santo, institucionalmente, negocia com as mulheres e filhos dos militares que bloqueavam as portas dos quartéis, prometendo não punir os policiais. O secretário de Controle e Transparência procura fatiar o movimento. Diz que a reivindicação salarial é apenas fachada e que a real motivação da parede grevista é política, envolveria o deputado militar Jair Bolsonaro, possível candidato à presidência da República em 2018 e, para sua execução, teria ocorrido o uso de “terrorismo digital”, tanto que os supostos líderes e apoiadores militares já estão presos.

 Seria interessante o governo, enquanto empregador do policial militar, ouvir suas reivindicações e, com toda transparência, atender as que forem possíveis e dizer clara a convincentemente o que não pode implementar. Essa atitude serviria para recuperar a confiança perdida entre as partes que, para o bem da sociedade, têm de estar afinadas para uma boa prestação de serviços.

Ao militar não é permitido fazer greve e, tecnicamente, os capixabas não fizeram greve. Apenas não saíram às ruas porque as portas dos quartéis estavam bloqueadas por seus familiares que, também sentindo as dificuldades do baixo salário, resolveram se manifestar e nada os impede de fazê-lo, pois são civis. O governo também não pode continuar ignorando o seu dever constitucional de pelo menos repor a inflação anual aos salários. Logo, como deu motivo ao movimento, se pensa em punir os policiais, também deveria ser punido por descumprir a Constituição.

Quanto à prática do denunciado “terrorismo digital”, há que se tomar as devidas precauções com a classificação. Verificar se o que foi divulgado pelas redes sociais seriam apenas opiniões contrárias ao governo e o direito à livre manifestação, e até onde as postagens podem ferir a legislação ou apenas a susceptibilidade do governador e de seus auxiliares. De outro lado, a insuflação do movimento por interesses político-eleitorais, precisa ser apurada devidamente e, comprovada, gerar as devidas punições no foro competente.

Temos que o estado do Espírito Santo está funcionando como um grande laboratório para o movimento reivindicatório dos policiais militares de todo o país, que enfrentam problemas análogos ao dos capixabas. Os governadores e os militares precisam observar, recolher as lições de lá partidas e, principalmente, impedir que forças estranhas aos objetivos, mesmo que representadas por pessoas do meio ou a ele ligadas, venham a enfraquecer as justas reivindicações dos militares que querem apenas salários dignos e boas condições de trabalho…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br

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