O Brasil, as raposas e o galinheiro

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

Todos os dias – ou quase todos – somos surpreendidos por notícias sobre esquemas criminosos cujos participantes desviam a finalidade do dinheiro público, levando-o para o custeio de campanhas eleitorais ou para o puro enriquecimento ilícito. Aquela informação velada de que tudo teria uma propina de 10%, que circulou por anos a fio e era difícil de ser confirmada, agora é fato conhecido e comprovado por milhares de  investigações, inquéritos, processos, delações e até sentenças. São elevadíssimas somas roubadas. Escolas, hospitais, estradas, aeroportos, abastecimento de água e energético e outros serviços custeados ou executados pelos governos e seus prepostos têm sido usados para sustentar a legião de corruptos que ocupam os escaninhos do poder ou gravitam ao seu redor. E o povo, legítimo dono dos recursos resultantes de impostos e serviços superfaturados, além de pagar caro, não é atendido. A degradação é tanta que até membros de tribunais de contas já foram presos, considerável parcela do Congresso Nacional é investigada (alguns congressistas já são processados e outros presos) e até o presidente da República é denunciado e seus antecessores processados.

É surreal o quadro formado pela crônica dos detentores do poder nas diferentes esferas. Os malfeitos já conhecidos e aqueles que ainda virão a público com o avançar das investigações, principalmente as delações onde um envolvido revela a identidade de seus comparsas, mostram um Brasil doente. Mesmo assim, a economia, quando não é (ou é menos) atingida pelos esquemas de corrupção, dá sinais de recuperação. Precisamos de reformas. Mas não o simples tirar de direitos dos trabalhadores, o nada fazer sobre os grandes devedores e o deixar inalterados os elevados gastos governamentais e os privilégios de poucos que, cortados, poderiam resolver os problemas de muitos.

 Mais do que qualquer alteração setorial, como as que se têm proposto, o país necessita de uma reforma conceitual. O bem público, hoje negligenciado e sob a guarda de corruptos, tem de receber controles eficientes e compartilhados entre diferentes entes, onde um impossibilite que o outro cometa irregularidades. A União, os estados e os municípios têm de operar sob rígidos controles. A máquina pública tem de ser reforçada e tornar-se eficiente para atender as demandas e administrar o erário, sem que os políticos, ocupantes de caros eletivos ou nomeados por estes, tenham acesso direto ao cofre. A estes deve ser reservada apenas a tarefa política. Para colocar a mão no dinheiro, tem de ser servidor de carreira, com formação, concursado e compromissado  para essa finalidade com regras que, não cumpridas, possam custar a carreira, o patrimônio e a estabilidade profissional e pessoal. Não podemos continuar no atual sistema, onde o que vigora é a popular figura da raposa administrando o galinheiro…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)  aspomilpm@terra.com.br                   

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