A (falta de) ética e a decepção do povo

 Nunca antes este país – como diz o bordão preferido de um certo político – viveu uma crise moral, econômica e ética como a de hoje. O prestígio da classe política cai a cada nova revelação ou denúncia de irregularidades cometidas no exercício de postos públicos ou na conquista deles. Somas astronômicas que deveriam estar investidas em serviços que o governo e seus órgãos têm o dever legal de prestar à população, foram desviadas para custear as eleições e o enriquecimento ilícito de milhares de homens e mulheres com acesso ao poder, muitos deles auto-intitulados representantes do povo. A Operação Lava Jato é um marco na vida nacional e não pode ser barrada nem enfraquecida, pois além de trazer de volta uma parcela (ainda que pequena) daquilo que foi roubado, deve impedir a continuação dos crimes.

É desolador assistir o presidente da República, ministros, senadores, deputados, governadores, prefeitos e vereadores colocados na linha de suspeição, parte deles já transformada em réus e alguns condenados e presos. Não menos revoltante é receber as notícias de que membros do Executivo, Legislativo e do Judiciário vêm recebendo salários acima do teto legalmente estabelecido de R$ 33 mil que, aos olhos do povo, é generoso, pois muito poucos ganham isso em atividades fora do meio oficial. Além dos tais salários, ainda se verifica os elevados jetons – entre R$ 10 mil e R$ 25 mil – pagos a integrantes de conselhos ou a dirigentes de órgãos mantidos com o aporte de verbas ou contribuições oficiais, indicados aos cargos por interferência política. A dinheirama carreada para essa casta é um verdadeiro crime de lesa-pátria, pois enriquece uns privilegiados enquanto o povo sofre com falta de atendimento na saúde, educação deficiente, segurança precária e outras dificuldades decorrentes da penúria oficialmente imposta.

É preciso apurar com rigor tudo o que é feito com o dinheiro vazado do cofre público para ONGs e instituições que recebem mas não cumprem os cronogramas. Nesta quarta-feira vimos a Polícia Federal prender os dirigentes da Cruz Vermelha, acusados de desvios. Pelo lastro da entidade humanitária, era algo difícil de se imaginar, mas infelizmente aconteceu, assim como ocorreram os roubos na realização da Copa do Mundo, dos Jogos Olímpicos e em muitos outros programas. Esses achaques não podem ficar impunes. Seus responsáveis têm de ser exemplamente alcançados pela lei. Carecemos da mais rigorosa execução penal não só para os pobres e desvalidos, mas também e principalmente para os barões da corrupção, estejam eles onde estiverem e independente da sua importância no meio político, econômico ou social. A reforma ética, sem dúvida, é mais importante do que a trabalhista, a econômica, a política e até a social…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 

aspomilpm@terra.com.br

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