E, AGORA, JOSÉ?

AUREMÁCIO CARVALHO

 Um dos truques dos maridos traídos é retirar o sofá da sala de visitas, diz a velha piada. As cenas mostradas hoje num Jornal diário de alcance nacional, de políticos e outras pessoas recebendo, de modo claro e insofismável, suposta propina ou “mensalinho”, como diz o delator Silval Barbosa, é de difícil ou impossível negação: “vídeo falso, montagem”? Vai ser muito difícil o Prefeito da Capital, um Deputado Federal, uma Prefeita, e personagens respeitados, como o ex-Deputado do PT,  Alexandre César- aliás, Procurador do Estado e professor da Faculdade de Direito da UFMT, e o ex-Deputado J. Barreto, conseguirem convencer o eleitorado/povo e os órgãos que vão cuidar do assunto, das suas inocências, ou do engano do vídeo.

Este fato, lamentável, reflete apenas a crise aguda que o Brasil atravessa, de total desmoralização de suas instituições, principalmente, a classe política e o executivo. Ética virou artigo de luxo. Corrupção, o prato do dia. Para o Prefeito Emanuel Pinheiro o vídeo estragou a festa de sua passagem pelos EUA, que seria apresentada com pompa e promessas de investimentos na Capital e município por organismos inernacionais.

Ética é o nome dado ao ramo da filosofia dedicado aos assuntos morais. A palavra ética é derivada do grego, e significa aquilo que pertence ao caráter. Num sentido menos filosófico e mais prático podemos compreender um pouco melhor esse conceito examinando certas condutas do nosso dia a dia, quando nos referimos, por exemplo, ao comportamento de alguns profissionais, tais como um médico, jornalista, advogado, empresário, um político e até mesmo um membro do Poder Judiciário ou do MP.

Todos têm seu Código de Ética e deveres a cumprir na sua atuação diária. O foco da ética no serviço público está diretamente relacionado com a conduta dos funcionários que ocupam esses cargos públicos. Tais indivíduos devem agir conforme um padrão ético, exibindo valores morais como a boa fé, transparência, e outros princípios necessários para uma vida saudável no seio da sociedade.

Quando uma pessoa é eleita para um cargo público, a sociedade deposita nela confiança, e espera que ela cumpra um padrão ético mínimo. Assim, essa pessoa deve estar ao nível dessa confiança e exercer a sua função seguindo determinados valores, princípios, ideais e regras. Infelizmente, não é isto que vemos no Brasil de hoje.

Pelo contrário, assistimos ao desmonte do país, ao assalto, à luz do dia, de suas instituições e recursos, deixando o povo na situação de miséria e abandono, desemprego e violência, do dia a dia.  Como diz um amigo comerciante: “para vender com ética, primeiro, venda para você mesmo, depois compre de você mesmo, se você ficar satisfeito, estará no caminho.”

Ou, em outras palavras: agir com ética, em qualquer campo, principalmente, na política, é uma reflexão diária sobre o valor das nossas ações consideradas tanto no âmbito coletivo como no âmbito individual, que praticamos. Segundo Marilena Chauí em seu livro Convite à Filosofia (2008:110), a filosofia moral ou a disciplina denominada ética nasce quando se passa a indagar o que são, de onde vêm e o que valem os costumes. Isto é, nasce quando também se busca compreender o caráter de cada pessoa, isto é, o senso moral e consciência moral, individuais.

Em suma: ética é uma virtude que está sempre presente no comportamento humano, portanto é um fator essencial na tessitura da vida social. Ela leva o Homem a questionar constantemente suas ações e as atitudes alheias, tentando definir se elas são boas ou más, corretas ou incorretas. No próximo ano, teremos eleições. Promessas, conchavos, caixa 2, 3, e  4, serão a rotina de sempre, tudo visando a impunidade sob o manto do mandato; que é o vemos diariamente; pois mais de um terço do Congresso Nacional- deputados e senadores, responde a processos ou inquéritos no STF, que, sabemos, julgar a passos de tartaruga.

Portanto, o mandato é o melhor esconderijo para fugir da cadeia, hoje, corroborado com a tal da delação premiada. No Brasil está claramente demonstrado que em política quase tudo é feito contrariando normas morais e princípios éticos, pois, para começar, os políticos não são éticos quando mentem aos seus eleitores, fazendo promessas que jamais pensaram em cumprir, já que o seu único objetivo é alcançar um mandato que lhes permita legislar para seu próprio benefício ou de grupos hegemônicos, ou administrar bens públicos, para retirar deles o que puderem, para si e para seus aliados.

Isto já é suficiente para encher qualquer pessoa de indignação, mas há mais, envolvendo outras necessidades básicas do ser humano, como a alimentação, pois consta que 24 milhões de brasileiros, mais de 10% da população total, vivem abaixo da linha da miséria, e cerca de 9 milhões deles passam fome diariamente ou buscam nos lixões o que comer. Embora nem sempre haja convergência entre as práticas políticas e os princípios morais, é fato hoje que a sociedade em geral está cansada de tantas notícias envolvendo escândalos de corrupção e posturas não condizentes com nossos representantes políticos, tanto na esfera do poder executivo quanto do legislativo, e clama por uma sociedade mais justa, no mesmo sentido em que desde a antiguidade Platão e Aristóteles já destacavam o importante papel que a ética deve desempenhar para a vida em sociedade.

Contudo, há nos corações e mentes de homens e mulheres sempre uma fagulha de esperança de que é possível viver numa sociedade mais justa e menos desigual. E é este sentimento que nos anima e nos move rumo a um futuro melhor hoje, para o nosso sofrido Brasil. O primeiro passo é saber votar, pois como diz um filósofo, “o pior analfabeto, é o analfabeto político”. Que aprendamos a lição.

  Auremácio Carvalho é Advogado.

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