Museu Nacional, a tragédia como alerta

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves

É muito difícil falar, e até raciocinar, sob o impacto de uma tragédia. O incêndio do Museu Nacional é uma grande perda para a cultura nacional e mundial e a mostra do desleixo com que o Brasil trata o seu patrimônio histórico, artístico e cultural. Infelizmente, pouco deve ter sobrado dos 20 milhões de peças e objetos ali reunidos ao longo de dois séculos. Hoje o país chora sobre o sinistro, inclusive autoridades e figuras que poderiam ter evitado o triste fim, mas não o fizeram. As promessas de providências desfilam sob o impacto do ocorrido e, como sempre, será difícil nelas acreditar no cumprimento dentro do um Estado inchado, perdulário e sem compromisso com sua história, que muitos tentam mudar ao mais deslavado sabor ideológico.

Independente do que vai se empreender em relação ao museu consumido pelas chamas, urge observar a existência de outros museus e de imóveis e empreendimento cujo valor histórico, artístico e cultural são oficialmente reconhecidos, ma não recebem os devidos cuidados e poderão ter destino análogo. Em São Paulo, o Museu do Ipiranga passa um extenso período de 9 anos fechado para reformas, o Museu da Palavra pegou fogo e centenas, talvez milhares, de prédios tombados por abrigar a história local, regional ou nacional, padecem por falta de investimento e política factível de manejo.

Apagado o fogo, o Museu Nacional certamente continuará vivo através dos registros de pesquisadores e pelos meios de comunicação sobre o material ali reunido. Por justiça, também deverão integrar o acervo, os muitos alertas constantes de matérias jornalísticas, ignorados pelas autoridades, quanto à sua conservação e segurança.

O país precisa encontrar meios de preservar e assegurar a integridade de instalações, acervos e documentação histórica. Criar políticas possíveis para a catalogação, guarda e segurança dos materiais, manutenção de prédios históricos e sua disponibilização para o conhecimento e valorização da população. Não podemos ter acervos como simples depósitos de coisas velhas, e prédios tombados apenas como ônus a seus proprietários impossibilitados de deles dispor livremente e sem condições de mantê-los como peças de contexto cultural. Em vez de programas de renúncia de receita para apoiar artistas que já são sucesso ou que não conseguem levar platéia a suas sofríveis apresentações ou, ainda, são figuras ideológicas, melhor seria que esses programas servissem para conservar e apoiar o permanentemente ameaçado e degradado patrimônio cultural.

 Que o triste episódio do Museu Nacional sirva de alerta em relação aos demais empreendimentos culturais negligenciados em todo o território brasileiro. A União, os estados e os municípios possuem muitas instalações culturais e históricas problemáticas. Acautelem-se antes que tenham de lamentar sua perda e justificar o injustificável.  

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 

aspomilpm@terra.com.br                

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