Estamos numa semana como poucas na história recente do país. A população nas ruas em busca de mudanças e uma parcela reconhecidamente menor – possivelmente tentando manter privilégios ou por questões ideológicas – ainda procura resistir. Mas, a não ser que ocorra uma hecatombe, Jair Bolsonaro será o presidente da República. Excitação popular assim tão grande só se assistiu, durante as ultimas três décadas, na eleição de Tancredo Neves no colégio eleitoral (que fechou o ciclo de governos militares) seguida de sua agonia e morte, na eleição de Fernando Collor (que em 1989 prometia caçar os marajás do serviço público) e na de Lula, o primeiro operário a ocupar a presidência, em 2002. As demais disputas do período transcorreram sem grandes expectativas, pelo menos no tocante a mudanças. Exceções feitas aos impeachments de Fernando Collor e Dilma Rousseff. Agora, Bolsonaro se apresenta como a esperança frente a um país política e economicamente devastado por atos de corrupção de governantes, políticos, empresários e executivos que os acontecimentos transformaram em réus.
Por sua origem militar, e sua pregação sem papas na língua, o candidato inspira uns e amedronta outros, especialmente os que têm contas a ajustar. Polarizado como está o processo, o clima de hostilidades é alto. A política voltou a separar parentes e amigos de opções divergentes e muitos chegam a fazer besteiras que podem lhes render dor-de-cabeça futura. É um momento delicado. Temos de entendê-lo pelo viés cívico e democrático. Radicalismos não levarão ao caminho que a população necessita e quer. Os próprios candidatos a presidente e a governador desse segundo turno, devem reconhecer suas situações e adotar posições firmes, mas sem extremismos para evitar que celerados – que existem em toda parte – possam colocar o processo a perder.
É lícito que os postulantes e suas equipes levem a campanha até o último momento permitido pela legislação e calendário eleitoral. Mas seria insano que recorressem à selvageria e a métodos antidemocráticos. Afinal, a eleição tem apenas uma finalidade: escolher o governante dos próximos quatro anos. E a democracia, que todos invocam na hora de pedir o voto, determina que a maioria dos votos vence e a minoria a ela se submete e ordeiramente constitui a oposição fiscalizadora. É preciso entender que, apesar das dificuldades, o país vive um momento de plena ordem constitucional e que até as apurações resultantes no encarceramento de políticos, empresários e atravessadores comprometidos com a corrupção, foram lastreadas na Constituição e no ordenamento jurídico por ela abrigado. O mesmo ocorrerá no provável governo de Bolsonaro, e ele já declarou. Será escravo da Constituição, até porque, se for eleito, será sob a égide constitucional.
O momento é de firmeza, calma e civismo. É o que o Brasil necessita…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br
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