O tempo torna-nos sensíveis para ver o que o ontem não viu.
A ânsia de viver adormece a sensibilidade, a serenidade, a empatia.
Eis que o urgente chama, grita; é imperativo e não deixa tempo para o tempo, para a vida, crendo que a vida é a intensidade, é o tudo ou o nada.
A Urgência cega os olhos, inebria os sentidos, entorpece o real e faz da ânsia a única certeza de que a quietude é seu oposto, e faz do feio o bonito, do certo o errado; aliás, já não existe mais certo e errado, porque a Urgência requer ação, não reflexão. Refletir? Torna-se o disforme, o bobo, o tolo, o tosco.
A Urgência muda conceitos. Ela não deixa espaço, não deixa tempo, não deixa pensamentos para pensamentos.
Não há tempo para pensar em si, no outro, no que se ganha, no que se perde; no que virá ou não virá. Não há tempo, não há tempo!!
A Urgência não admite o que não a acompanha, como “Narciso acha feio o que não é espelho”, a Urgência acha demora tudo o que não é rápido, tudo o que não pensa com seus pensamentos, que não anda com seus passos, seus sentimentos, que não vive na sua adrenalina de viver.
A tranquilidade repulsa, intriga, irrita a Urgência; o hoje e o amanhã é tempo demais para o ontem.
O que importa é preencher os espaços [……….], o vazio que a Urgência não quer ter, não admite sentir.
A Urgência não percebe que não é o intenso que permanece. A intensidade em si é furação que destrói, é fogo que queima e se apaga, é tempestade que chega e se vai.
É a brisa que acalma, é a brisa que afaga e faz respirar; é o tempo que cura, que constrói e refaz vidas.
Juliana Souza Ferreira,
Trecho do Livro: As Cores da Alma
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