Saúde, qualidade e consciência 

Nada no mundo se resolve simplesmente com quantidade. É algo básico e todos sabemos bem. Não adianta ter uma frota de automóveis, se todos estão sem bateria. A mesa não se resolve com toneladas de alimentos, caso estejam estragados. Um time não ganha campeonato com um elenco de 100 jogadores, se todos são pernas de pau.  

Na saúde, essa premissa é mais válida do que nunca. Seguidos governos vêm criando escolas e mais escolas de medicina. O problema é que boa parte delas oferece formação insuficiente e coloca na linha de frente profissionais que são um risco a vidas humanas e não uma solução para quem necessita de um bom médico.  

Temos no Brasil hoje 339 faculdades de medicina e 470 mil médicos. Há, somando os primeiros anos dos vários cursos, mais de 35 mil graduandos colocados na “pastelaria” anualmente, o que tende a aumentar. Isso significa que daqui a pouco mais de dez anos, estaremos bem próximos de contar com 1 milhão de profissionais com diploma de medicina.  

De nada adianta ser recordista em faculdades e em número de médicos, quando o aparelho formador é simplesmente uma máquina de fazer dinheiro, em detrimento da excelência do aprendizado. Nas faculdades particulares, o vestibular é absolutamente questionável, prejudicando uma adequada seleção.  

Aliás, vemos atualmente em cursos de medicina, alunos que não possuem condições mínimas para ser médico pelos mais variados fatores. A começar pela indisciplina e a falta de respeito à hierarquia.  

Essa falta de valores e de compostura cidadã se reflete negativamente não apenas no relacionamento com os colegas e superiores. Existe também indisciplina no que tange à presença na própria sala de aula, à crítica desmedida aos professores.  

Por outro lado, sofremos igualmente com a carência de mestres de verdade, que sejam firmes, de princípios sólidos. Infelizmente, quase não há o testemunho da vivência por parte de muitos daqueles que dizem ser professores.  

Salta aos olhos, quando falamos em valores e postura, que não há nem bom senso. Veja, por exemplo, o que ocorre com a vestimenta. É totalmente descabida para um curso de Medicina, a utilização de sandálias, shorts, bermudas, entre outras peças.  

Não raramente usa-se avental de maneira inadequada à responsabilidade e ao papel de um médico. Vemos peças sujas, amassadas, jogadas em porta-malas de automóveis.  

Além do aspecto repugnante, que não transmite confiança nem segurança ao paciente, óbvio que há a contaminação. Isso é o mínimo que um futuro médico deve ter em mente.  

Vou dizer o básico, pois, quem sabe assim, alguns aprendem: avental deve ser vestido para a assistência, depois deixado e lavado no hospital, para que seja colocado em próxima oportunidade, ao chegar. Não é para passear no caminho de casa, inclusive de moto, ou fazendo compras no supermercado.  

Enfim, tudo o que relatei agora passa diretamente por se ter ou não consciência. E aqui se encaixa — inclusive — a discussão cuja resposta todos temos: quantidade não é qualidade.  

Antonio Carlos Lopes, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica  

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