Sempre tive uma admiração por todo tipo de lixeira. Em minha cidade vários tipos foram instaladas nas ruas para que moradores e turistas depositassem seus dejetos em locais apropriados e não nas ruas e calçadas.
O grande problema de lixeiras públicas é o fato que vândalos sempre tem o prazer de destruí-las por nada. Lembro-me que, certa vez foram colocadas lixeiras de concreto em vários pontos das ruas principais. Era inevitável a cidade acordar com os pedaços dos concretos ao chão, devido a marteladas, pauladas e até tiros.
Isso foi me causando revolta. Sempre defendi a boa higiene e a limpeza em locais públicos. Não suporto ver tocos de cigarros jogados no meio da rua que tenho o impulso de catá-los e depositá-los em locais apropriados. Até mesmo chego a guardá-los no bolso para depositá-los na cesta de lixo de minha casa se for preciso.
Com esse intuito, decidi salvaguardar as lixeiras de minha cidade. Ninguém mais se atreveria a danificar o objeto crucial da limpeza em minha urbe.
Toda noite saia para as ruas no ímpeto vivaz de defender a todo custo as lixeiras de meliantes causadores do caos sujo e pestilento que é o vandalismo.
Uma lixeira localizada próxima a um clube da cidade, que em tempos de outrora havia sido a mais danificada por delinquentes embriagados que saiam do clube em noites fervorosas de muito álcool e imbecilidades, era a mais protegida de todas as outras lixeiras.
Sentia por essa lixeira de plástico certo apreço, talvez pelo motivo de ser a mais usada pela juventude com suas latinhas de cerveja e refrigerantes, por seus papéis picados e até mesmo por vômitos acidentais.
Estava motivado a defendê-la, a lutar por ela, a dar minha vida se fosse preciso para que nada acontecesse a essa lixeira.
Lembro-me que travei várias lutas com adolescentes transviados e cheguei a condenar uma turma de jovens a trabalhos comunitários por estarem tentando danificar a lixeira em questão.
Como toda aproximação gera paixão. Exagerei em minha apegação à lixeira. E já com sentidos combalidos, passei de protetor a vingador.
Para mim, a lixeira não mais existia como guardiã do lixo alheio e sim como objeto de minha própria limpeza. Dessa forma, não mais permitiria que pessoa alguma depositasse seu lixo em minha estimada e protegida amiga.
Sem alternativas, os causadores da sujeira urbana passaram a jogar seus dejetos em vias públicas, principalmente em frente ao clube da cidade.
Para mim nada importava, a não ser a limpeza de minha lixeira, bonitinha como ela só.
E foi assim que hoje vivo aqui nesse hospício. Limpinho, diga-se de passagem, mesmo que meus companheiros sejam uns porcos imundos. Mas isso não me abala. Estou contente, tenho minha lixeira de plástico a meu lado. Deixaram trazer comigo.
Rodrigo Alves de Carvalho nasceu em Jacutinga (MG). Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2018 lançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores.
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