UM MANDATO TERMINAL

Observamos que o presidente Jair Bolsonaro tem o cuidado de afirmar sempre que é militar e religioso. Não podemos deixar de analisar a inconsistência dessas afirmações, uma vez que ele não pode se afirmar militar, pois foi defenestrado do Exército, por ter optado pela carreira política e, no máximo pode se intitular ex-militar. Quanto à sua religiosidade, em nada pesa para o seu currículo (a não ser para obter apoio político dos grupos e bancadas evangélicas), pois o cargo de presidente da República é laico, conforme reza a Constituição.

Voltando à sua condição de ex-militar, verificamos que sua passagem pelo Exército foi, no mínimo, insignificante. Não se destacou na escola preparatória de cadetes ou na academia militar e nada fez de significativo em sua carreira de oficial, apenas acrescentando às suas alterações o curso militar de educação física. Saiu como entrou e não deixou saudades.

Como político se destacou apenas por saber se grupar, sempre, com aqueles que poderiam garantir a perenicidade de sua permanência nos cargos eletivos. Nunca se projetou como um líder, sempre se mantendo no espaço conhecido como o baixo clero.

Possui o mérito incontestável de estar na hora certa e no lugar certo no processo de afastamento de Dilma Roussef, onde começou a se destacar fora de sua área de conforto e soube muito bem aproveitar a oportunidade de vestir o traje de salvador da pátria, que os brasileiros ansiavam por encontrar.

Uma vez eleito, não por suas excepcionais qualidades e sim por ser o menos pior dos candidatos disponíveis, surpreendeu a todos com a montagem de uma equipe de nível, formada de alguns técnicos renomados, e que abriu um importante claro no futuro nebuloso que se projetava para o Brasil naquela época.

Embora com a oposição ferrenha das esquerdas e com a má vontade da imprensa em geral, conseguiu adquirir a confiança do grande público, prometendo devolver aos brasileiros o país perdido nos governos anteriores.

E hoje, onde chegamos?

O que se viu nesses primeiros meses de governo foi um presidente prepotente, falastrão e despreparado para o cargo, salvando-se apenas o trabalho de seus mais capazes auxiliares, que prestaram ou vem prestando um ótimo serviço à nação, evitando o fracasso total de sua gestão.

Os últimos meses, porém, minaram a confiança de seus apoiadores, que viram o primeiro mandatário e sua prole perseguir e detratar todos aqueles que se destacavam em suas funções.

O processo se acelerou nos últimos dias, quando ficou muito clara a sua incompetência para gerir o país no combate à pandemia do covid-19, formulando opiniões totalmente equivocadas e tomando decisões contrárias à corrente geral.

Para tentar recuperar seus índices de aceitação, atacou, destratou e demitiu o ministro da Saúde e, logo em seguida o ministro da Justiça, dois dos três baluartes de sua gestão. E fez isso apenas por não poder suportar que qualquer de seus auxiliares apresentasse popularidade superior à sua.

Para preencher a vaga na Saúde, foi buscar um excelente médico, porém sem atributos político-administrativos para o cargo, na crença de que ele vai se sujeitar aos seus ditames. Pode ser mais um dos seus enganos.

Para a Justiça, ultrapassou todos os limites. Primeiro propôs para a pasta um ex-major da PM que vem sendo seu, e de seus filhos, pau-mandado há várias décadas e não possui um mínimo de consistência técnica, política e cultural para o cargo. Quando pressionado por seus aliados mudou de candidato, escolhendo um naipe de ótimo currículo, porém que, por aceitar ser sobrepassado na nomeação do diretor-geral da PF, mostra que vai ser pilotado por Bolsonaro,  como é seu desejo, nos assuntos jurídicos federais.

O destrambelhamento da administração do atual presidente fica patente na nomeação do mais alto mandatário da Polícia Federal. Escolheu mais um pau-mandado de sua família, com clara vinculação pessoal, desmoralizando a instituição e tripudiando sobre o povo brasileiro.

Só falta agora o terceiro baluarte, que já recebeu as primeiras estocadas da família Bolsonaro e é a bola da vez. A aposta não é se Guedes vai sair, mas sim quando.

Quanto ao resto, vai de mal a pior. Abandonou seus mais fiéis aliados políticos e está se juntando aos velhos companheiros do Centrão, cuja fama estamos cansados de conhecer. Os militares, que não estão lotados no primeiro escalão do governo, já estão demonstrando claramente seu descontentamento e se afastando; e a imprensa internacional já está noticiando o descrédito que está sendo imputado pelos líderes do mundo ao nosso governo central.

Os sintomas são de um mandato terminal e precisamos fazer com que o afastamento de Bolsonaro aconteça a curtíssimo prazo, para diminuir o trauma que provocará e para que possamos recolocar o Brasil nos eixos o mais rápido possível.

Frederico Lohmann é arquiteto e consultor

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