Um baile de máscaras em meio à pandemia

Estava indo para Brasília e, como os voos estavam restritos, tive que fazer uma conexão em Cumbica, São Paulo. Todos, absolutamente todos, mascarados. Parecia um baile de máscaras do contra.
 
Cobrindo boca e nariz, nos bailes de máscaras se cobre a testa que não compromete a beleza, pois pouco se elogia uma testa: “nossa, você tem uma testa linda, adoro olhar para a sua testa”, este é um elogio muito bizarro.  Até mesmo os homens que possuem uma testa maior por falta de cabelo, não se orgulha por isso.
 
Nas festas de máscara, apenas são cobertas a testa e as pálpebras que, conforme a idade com os pés de galinha e papo de galo, ficam até bem quando escondidas. E da mesma forma é a situação do nariz. Tem nariz como o meu que aparece primeiro. Dobrando uma esquina, primeiro surge meu nariz, depois vem o resto do corpo. Aí seria até uma estratégia de marketing pessoal cobrir a testa e o nariz. Mas estas máscaras da pandemia…
 
Essas peças cobrem as partes que justamente mostram a beleza. O que adianta dentes ok, batom ok, preenchimento facial ok, sendo que ficam à mostra apenas sobrancelha ok e cílios ok e o resto cobre tudo. Você só desconfia que a pessoa seja bonita, imaginando aquele sorriso, dentes, etc. 
 
Encontrei um amigo mascarado passando pelo aeroporto também e quase não o reconheci. Enquanto ele falava, eu somente olhava para a testa e olhos dele. Reparei que ele tinha envelhecido na testa e pálpebras e sugeri a ele fazer um botox .
 
Por outro lado, tem uma coisa boa em usar estas máscaras, nem mesmo o celular te reconhece. Automaticamente, tento abrir o smartphone, ponho ele olhando para o meu rosto esquecendo da máscara. Aí, ele me estranha, como se dissesse “não te conheço”. 
 
Isto dá um sinal de liberdade, você poder andar no mercado, sem precisar cumprimentar. Às vezes, você não está a fim de conversar, pode passar reto. Se souber que é você, irá imaginar que não reconheceu ele de máscara.
 
Vai haver muita mudança nos hábitos da humanidade, a primeira festa que quero dar quando nos livrarmos disso será com máscaras pois acho que as pessoas vão ficar viciadas em usá-la. Será um acessório que pode ser lançado com grifes, tipo Gucci, Armane, Louis Vuitton.  Aparecerá uma regra social, que será usar máscara quando estiver gripado. Se espirrar então? Esta pessoa será tão indesejada como alguém fumando em um ambiente.
 
Entretanto, eu, como dentista, agora tenho que pedir para o paciente retirar a máscara para fazer o tratamento e também saber quem é a pessoa. 
 
Outra vantagem da máscara está relacionada ao pum, um pum no avião ou ônibus, tem dois lados. Para as vítimas, quando vem o cheirinho, todo mundo fica procurando e quem liberou, aquela cara de paisagem. Igual à do Mister Bim quando faz alguma arte saindo impune. Mesmo nunca sabendo quem foi, fica uma situação de desconfiança coletiva. Até mesmo entre os casais. “Foi você”?
 
Agora, com o uso da máscara, juntando com o barulho das turbinas, não dá para ouvir os tiros e nem sentir o perfume, com isto o voo segue sem turbulência, todos saem em paz. Livre como o Carefree. 
 
Favor desconsiderar aquele ou aquela que nunca soltou um punzinho.
 
Depois que o pico da pandemia for identificado, este pico que é tão esperado e nunca chega e a curva ter o seu fim, vão surgir alguns neuróticos por higiene que ficarão como guerrilheiros depois que termina a guerra.  Perdidos e procurando contaminação em todo o lugar. Cumprimentar ele? Você fica com a mão no ar.  Dar um abraço, então? Será como transar sem camisinha. Muita intimidade. Como nos filmes de Hollyood, o pai encontra a filha depois de anos sem vê-la. Você acha que eles irão dar um abraço de horas? Somente um “como vai?”.
 
Eu particularmente fico sem graça receber alguém e despedir sem dar um abraço. Muito estranho, muito chato. Não vejo a hora de poder abraçar meus amigos, as pessoas que gosto. Chega deste mundo virtual, live dos artistas, vida online.
 
A vida real é off line. De verdade! Estou muito carente. Preciso urgente de um abraço, sem máscaras. Você me entende, né?
 

*Rosário Casalenuovo Júnior é dentista, professor de odontologia há 30 anos, músico e articulista dos principais jornais de Mato Grosso. Cristão, atleta, pai de Pedro e Giovanna. Contato: rosario.casalenuovo@hotmail.com

Seja o primeiro a comentar sobre "Um baile de máscaras em meio à pandemia"

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado.


*