ALTA ANSIEDADE

Meus dois beagles, quando escutam as palavras “passear” e “papá”, são tomados de alta ansiedade e pululam à minha volta aguardando sua vez.

Essa imagem está claramente refletida na classe política atual, que ouviu as palavras “verbas públicas de emergência” e pululam em torno dos mandatários à espera das migalhas que lhes foram limitadas após o fim do governo Temer. É impressionante observarmos, nos três níveis, o ressurgimento de figuras conhecidas do mensalão e da lava-jato, todos com suas bocarras escancaradas, aguardando o momento para dar sua mordida no erário público.

Bastou o primeiro decreto de calamidade pública pela pandemia para vermos nossos conhecidos larápios se apresentando como intermediários de fornecedores de insumos hospitalares superfaturados, garantindo, como sempre fizeram ou tentaram fazer, que as verbas não cheguem ou cheguem minguadas à ponta das necessidades.

O retorno da prática danosa nos faz levantar uma teoria da conspiração, que vem martelando em nossa mente, não querendo calar. Qual o interesse pessoal da família Bolsonaro na produção da cloroquina? Que tipo de conchavo pode estar montado entre a família presidencial, cada vez mais envolvida em escândalos de apropriação ou malversação, e os laboratórios farmacêuticos que produzem o medicamento?

Imaginemos que os pimpolhos de Bolsonaro anteviram, ainda no início das contaminações na China, as possibilidades de ganho se a cloroquina se colocasse como um medicamento de largo consumo no controle da pandemia.

Imaginemos que foram afoitos e garantiram que o governo federal estabeleceria um protocolo para garantir o consumo disseminado, levando os laboratórios a produzirem em larga escala e agora tendo que manter os estoques sem chamar a atenção.

Estaria então explicada a insistência do presidente em divulgar a cloroquina, para permitir os ganhos e impedir o fiasco da negociação filial.

Frederico Lohmann é arquiteto e consultor

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