Um dos poucos benefícios obtidos com o isolamento social, nos mantendo reclusos em nossas residências, é a possibilidade de dedicarmos mais tempo à obtenção de informações, seja pela imprensa escrita, falada e televisada, seja pela internet ou mesmo pela possibilidade de novas leituras, sempre imprescindíveis à formação de nossas opiniões e nosso caráter. Dito isso, me espraio pelas infindáveis opções de analisar alguns meandros da política brasileira.
A decisão de participar da política partidária e disputar cargos públicos nem sempre, e cada vez menos nos dias de hoje, é tomada pelo desejo de servir à sua comunidade e ao seu país, resvalando no desejo de poder. Prioritariamente essa decisão é tomada pela promessa de ganhos fáceis legalmente auferidos e certamente pelos mais fáceis ainda, ilegalmente obtidos.
Infelizmente hoje os proventos e benesses ficaram insignificantes em face dos possíveis ganhos diretos ou indiretos com a malversação do erário público e na utilização nefasta de informações privilegiadas que geram retornos sempre excepcionais. Esse fim é o principal mote na luta para ser escolhido no concurso a cargos eletivos.
A primeira e irrefutável prova da veracidade de nossas análises é observarmos que a enorme maioria dos eleitos gastam mais em suas campanhas do que receberão em proventos e benesses durante todo o decorrer de seu mandato. Não fosse a certeza de que o mote foi por pura cobiça, poderíamos comemorar afirmando quão altruístas são nossos candidatos, que pagam para prestar serviço às suas comunidades.
A segunda e também irrefutável prova seria o resultado de uma auditoria séria na evolução patrimonial dos políticos eleitos no Brasil, cuja expressiva maioria nunca poderia ter obtido o patrimônio ostentado com os ganhos legais de sua carreira política, salvo aqueles que já dispunham de fortuna e puderam fazer cambalachos contábeis, fazendo sumir o numerário malversado. Também não podemos deixar de focalizar os laranjas que encobrem as receitas ilegais, como vimos nos processos contra Lula, Sergio Cabral, Eduardo Cunha e tantos outros devassados pela operação Lava-Jato, embora reconheçamos que os resultados até agora foram pífios em comparação com o montante em dinheiro e pessoas envolvidos nas maracutaias.
Poderíamos continuar descrevendo as inúmeras provas da corrupção pública endêmica e dos corruptores privados, porém é desnecessário pelo que sabemos desde o mensalão. Considero imprescindível deixar lavrada a certeza de não viverei o suficiente para ver o resultado palpável do combate aos malversadores do erário público e seus asseclas, advindos não só de seus pares como também de um enorme bloco privado, que são em sua grande maioria inatingíveis e impunes e não cansam de abocanhar as já minguadas verbas públicas brasileiras.
Frederico Lohmann – é arquiteto e consultor
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