Frederico Lohmann
O brasileiro, de forma geral, tem uma cultura peculiar de radicalizar seus conceitos. Isso acontece, principalmente, na classificação de seus preferidos e seus desafetos. Aos primeiros sempre oferece as asas de um anjo, sem máculas, enquanto aos outros impõe um par de chifres e o fogo dos Infernos.
Quando partimos do princípio de que ninguém é tão anjo que mereça tal classificação, assim como ninguém é tão demônio que lhes cresçam os chifres, nos colocamos numa situação desconfortável, pois, para grande parte da população brasileira, ou você concorda com suas convicções ou você está situado no lado oposto.
É muito raro encontrarmos pessoas que são capazes de defender os atos positivos de seus desafetos. Ou ignoram solenemente ou imputam defeitos visando sua anulação. A maioria considera que, ao defender seu desafeto, estará colocando em xeque as suas convicções e os seus conceitos arraigados pelo extremismo.
O importante é tentarmos ser os mais imparciais possíveis na conceituação de quem nos cerca ou daqueles que emitimos opinião a respeito. Devemos reconhecer os defeitos, tentar compreendê-los, perdoar se possível for ou aceitarmos sem maiores questionamentos, assim como não valorizar em excesso suas virtudes, tentando evitar que a supervalorização diminua nossa capacidade de compreendê-lo e situá-lo num patamar razoável.
Anjos e demônios são conceitos mitológicos e inalcançáveis e não devem ser impostos aos seres humanos falhos e incompletos. O fato de tentarmos diminuir nossos desafetos, imputando-lhes características demoníacas, só resulta em nos auto atrofiarmos moral e religiosamente, denegrindo nossa imagem aos olhos da comunidade.
Assim como diz o ditado que de médico e louco todos temos um pouco, também podemos afirmar que um pouco de anjo e de demônio fazem parte de nossa personalidade e que não devemos jogar a primeira pedra quando sabemos que nada é muito ruim como também não é muito bom.
Frederico Lohmann é arquiteto e consultor
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