Themístocles de Azeredo
Durante a presidência de Juscelino Kubitschek, em uma de suas edições de domingo o jornal Correio da Manhã publicou matéria denunciando o chefe de gabinete do ministro da Educação por envolvimento em mal feitos. Na segunda-feira pela manhã a demissão a pedido do ministro Gustavo Capanema, um dos mais fortes do governo Juscelino, estava em cima da mesa do presidente, que aceitou.
Se esse exemplo tivesse sido seguido no tempo e se os governantes tivessem se mantido intolerantes com atos de corrupção, não teríamos atingido o despautério que temos hoje. Há poucos anos atrás, quando da deflagração da operação Lava-jato e suas consequências imediatas, tivemos um sopro de esperança de que estávamos entrando num processo de transformação da política brasileira e que os exemplos fariam com que os corruptos reduzissem sensivelmente suas pretensões.
Ledo engano. Além de vermos os corruptos conseguirem, dia-a-dia, diminuir o poder de polícia da operação e a Justiça brasileira se associar a esses corruptos na soltura dos claramente culpados pelos mal feitos, vemos agora um complô, que começa na família Bolsonaro e se estende pelos tribunais superiores e Ministério Público, para extinguir o processo de apuração, arquivar os processos em andamento e inocentar os condenados.
O sopro de esperança citado se esvaiu com a pandemia em curso. Foi impressionante a presteza e a produtividade dos corruptos de plantão, invadindo todas as áreas atingidas pela legislação de emergência e capitaneando as compras com sobrepreço e as obras com superfaturamento, engolindo rapidamente uma enorme fatia das verbas liberadas, sem se preocupar com as consequências, pois se sentem seguros e impunes.
E o mais estarrecedor do episódio é que essa corrupção desenfreada não atingiu apenas os limites de gestão dos órgãos envolvidos, mas causou, sem dúvida, milhares de mortes por incapacidade de atendimento, pois os recursos haviam sido desviados de sua finalidade. E isso não provocou qualquer enrubescimento nos corruptos, que não se consideram responsáveis pelo morticínio causado e sim com o direito de abocanhar qualquer verba que se coloque ao seu alcance.
Themístocles de Azeredo é um brasileiro aposentado
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