Novo livro de escritor aragarcense vai além do ponto final das histórias

Em seu novo livro, o escritor, poeta e jornalista Antonio Peres Pacheco, que é natural de Aragarças, quebra as barreiras da intertextualidade e expande histórias que pensávamos conhecer

Um livro para ler e ouvir. Mas, não apenas isso. Um livro para romper os limites do próprio universo literário conhecido e penetrar em fronteiras ainda não exploradas do prazer da leitura. Uma experiência que seduz a mente e desafia o leitor a ir além do fim das histórias narradas no livro. Esta a proposta do livro “O Universo No Espelho, Aqueles Outros e suas Versões das Histórias”, de autoria do escritor, poeta e jornalista Antonio P. Pacheco, 57 anos. O autor nasceu e viveu metade de sua vida pelas barrancas dos rios Araguaia e Garças, pelas ruas da tripla urbe formada pela junção da sua cidade natal, Aragarças, com Pontal e Barra do Garças.

A obra, a segunda do autor no gênero contos, será lançada na segunda quinzena de maio e chegará ao mercado literário em dose dupla, nos formatos de livro físico e em audiolivro. De forma sintética, Antonio P. Pacheco diz que sua obra é um tributo à grandes nomes de literatura universal e brasileira que ele admira.

Mas, não é apenas isto. O livro, na verdade se revela um provocador exercício de subversão e demolição dos limites entre o que pensamos saber sobre uma história qualquer e o quão profundo e diverso pode ser o universo de determinados personagens que não foram “ouvidos” e nem vistos nas versões que nos foram apresentadas por alguns escritores consagrados no cânone da literatura mundial.

Nesta incursão pela prosa – Antonio P. Pacheco é mais conhecido nos meios literários por suas poesias publicadas nas redes sociais e em livros –  o autor nos apresenta, sob novas perspectivas, fatos ficcionais narrados em outros livros. Para tanto, ele evoca e amplifica presenças e vozes de personagens estavam nas sombras, atuando como coadjuvantes no fundo das cenas, ou mesmo sequer haviam sido citados, mas que pairavam como fantasmas nos contos que inspiram cada uma das novas histórias.

São ao todo nove contos que criam, recriam e resinificam personagens, expandem e aprofundam histórias escritas por mestres da literatura sul-americana, como Gabriel Garcia Marquez, Mário Vargas Llosa, Júlio Córtazar, Clarice Lispector, Lygia Fagundes Teles; e alguns dos maiores  autores da língua inglesa e russa como James Joyce, Hernest Hemingway, Vladimir Nabokov e Isaac Bábel.

O uso da literatura como matéria prima de si mesma não é nenhuma novidade. Escritores do mundo todo já escreveram best sellers e obras premiadas “inspirados” em criações de autores mais antigos, em personagens de obras clássicas. Mas, nenhum se dispôs a ir tão longe em seu mergulho na intertextualidade quanto o fez o escritor, poeta e jornalista Antonio P. Pacheco neste livro.

A intertextualidade foi levada ao paroxismo pelo escritor em “O Universo no Espelho, Aqueles Outros e suas versões das histórias”. Ao assumir como seus os universos de obras incluídas no cânone literário universal, o escritor os reconstrói, submete-os às luzes do mundo a partir dos olhares de narradores e protagonistas que haviam sido deixados em segundo plano, que ficaram obscurecidos ou foram, de propósito, lançados à condição de sujeito oculto ou ausente da naquela determinada realidade ficcional.

“Não se trata de simplesmente pegar uma personagem como inspiração, como referência e criar um ‘clone’, um pastiche, uma ‘versão’ unidimensional de alguma criatura já existente. Mas, sim, de conceder àquela figura obnubilada a materialidade que lhe foi negada originalmente, torna-la corpórea e plena como protagonista, com tudo o que isso implica, permitindo que ela nos revele sua própria versão daquela história, com total controle da narrativa e da cosmovisão daquele universo”, explica o escritor.

A forma como Antonio P. Pacheco se permite romper os limites do espaço-tempo e contextos em cada história, mudando cenários, estabelecendo origens, impondo novas abordagens, incorporando novas mitologias, reorganizando as estruturas narrativas e até emulando cacoetes estilísticos dos autores que o inspiraram, empurra para distâncias ainda não percorridas todas as barreiras, todos os padrões e conceitos acadêmicos da própria intertextualidade.

As histórias narradas no livro de Antonio P. Pacheco, na verdade, constroem pontes sobre os abismos que separam o que já foi contado e o que já é conhecido daquilo que é novidade e do que é inédito, revelando profundidades e desdobramentos inesperados de universos que, agora sabemos, nós pensávamos ilusoriamente estar completos.

“Neste livro, em que a matéria prima é a própria literatura e a realidade ficcional já criada, eu busco aplicar duas máximas do jornalismo: o ouvir impreterivelmente o outro lado, e a “suíte” dos fatos já ‘manchetados’. – salienta o escritor. – No ‘O Universo no Espelho (…)’ os protagonistas são  personagens que, mesmo sendo fundamentais em cada uma das melhores histórias contadas pelos escritores pelos quais eu tenho grande respeito e admiração, tinham ficado em segundo plano, escondidos nas sombras, exilados nas entrelinhas. Nas minhas histórias, eles são os narradores. Assim, o leitor terá o privilégio de conhecer mais e melhor estas personas, como elas testemunham de si mesmos, quais são suas versões para suas histórias, quais foram suas motivações, suas emoções, quais mistérios e quais novas revelações eles nos trazem sobre suas trajetórias”, explica o escritor.

Ao longo das páginas d’O Universo no Espelho (…) ou de sua audição, o leitor/ouvinte é convidado a desvendar, antes do ponto final de cada uma das nove histórias, a quais universos pertenceriam originalmente aquelas personagens, qual seria o autor da primeira versão ou qual é a história que inspirou o escritor Antonio P. Pacheco.

Algumas pistas são dadas pelo escritor em alguns contos do livro, mas, nunca estas pistas são óbvias. “As pistas podem estar no ritmo, no linguajar, na estética, no vocabulário do conto. Ou ainda pode não ter pista alguma. E o que parece ser referência a um dado escritor pode ser uma pista falsa. O leitor terá que descobrir por si mesmo. Mas, sem olhar o fim da história, claro!”, provoca Antonio P. Pacheco.

O autor garante que não foi por mera condescendência para com o leitor menos aficcionado pela literatura em geral – como pode se imaginar a princípio – que ao final de cada conto venha a indicação sobre qual história original e autor inspirou os contos do livro. “Sei que isso é desnecessário. Mas, o fiz como um convite para que aqueles que curtem jogos de mistério e comparações, procurem ler ou reler as versões ‘originais’. O objetivo é que possam desfrutar o mais amplamente possível o prazer de uma boa leitura e a fruição prazerosa desses universos expandidos”, argumenta o escritor.

O livro “O Universo no Espelho, Aqueles Outros e suas Versões das Histórias” é um dos projetos contemplados pela Lei Federal Aldir Blanc, Edital nº05/2020 “MT Nascentes”, da Secretaria Estadual de Cultura, Esporte e Lazer (Secel-MT). O lançamento das duas versões da obra, o livro físico e o audiolivro, está previsto para ocorrer no na segunda quinzena de maio.

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