O remar na mesma direção

            Finalmente vemos duas falas coincidentes, uma do governador paulista Joao Dória e outra do presidente Jair Bolsonaro. No mesmo dia em que o primeiro anuncia seu plano de vacinar todos os paulistas até o final de outubro, o segundo garante que até o final do ano toda a população brasileira estará imunizada. É um bom sinal quando dois líderes antagônicos – independente de seus posicionamentos e propósitos políticos – falam a mesma coisa diante de algo tão grave quanto a pandemia da Covid-19. Oxalá façam autocrítica, reconheçam onde suas ações de até agora não foram as melhores, e possam corrigir o curso para, com isso, podermos debelar o mal mais facilmente. Se ambos tiverem essa grandeza, certamente outras lideranças nacionais ou regionais farão o mesmo, até porque não lhes restará outra alternativa.

            Já faz mais de um ano e três meses que convivemos com o novo coronavírus. Lamentamos a primeira morte de um brasileiro em 17 de março do ano passado e, dois meses depois, no dia 17 de maio, registrávamos 1.179 óbitos, numero que baixou até 128 em 8 de novembro, mas disparou novamente em dezembro, atingindo o pico de 4.249 em 8 de abril último. O quadro retrocedeu um pouco, mas ficou em mais de 2 mil na maioria dos dias de maio e junho que se inicia. Com isso, já perdemos 469.784 brasileiros (número de 04/06) e temos o grande temor – já dado como certo por várias fontes – de que chegou a terceira onda.

            Bom seria se, desde o começo, tivéssemos podido contar com ações coordenadas e numa mesma direção, com o único objetivo de salvar vidas. Teria sido melhor que em vez do confronto, os governantes dos três níveis – federal, estadual e municipal – tivessem optado pelo acordo que fosse menos danoso à população. Mas, apesar de tudo, sempre é possível corrigir o curso e priorizar o interesse do povo, cuja maioria pouco se importa com a política e o destino que cada político terá em sua carreira.

            Esperamos que Bolsonaro, independente de suas razões ou preferências, desista do debate com governadores e prefeitos, e estes façam o mesmo em relação ao presidente, pensando apenas no meio de fazer a vacina chegar mais rápido a cada cidadão integrante do público em risco e de garantir o socorro aos que adoecerem e – mais do que se fez até agora – motivar a população a tomar todos os cuidados porque, melhor que ser vacinado ou receber tratamento hospitalar, é não contrair a Covid-19. Sabemos que mesmo os pacientes dados como curados da pandemia, saem do hospital com sequelas que carecem de fisioterapia e tratamento próprios e, muitas vezes, isso tudo é insuficiente. Não morreram da Covid, mas morrem das complicações dela restantes.

            Outro ponto a motivar a população – além do distanciamento pessoal, não aglomeração e da limpeza seguida das mãos – é a necessidade de os testados positivos colocados em recolhimento domiciliar sigam as recomendações de não circulem, para evitar a proliferação do vírus a seus familiares e membros da comunidade onde vivem. Levantamentos denunciam que muitos deles descumprem o determinado.

            Quanto às apurações de impropriedades ou crimes cometidos por quem quer que seja, no âmbito da pandemia, é tarefa para a promotoria pública e a polícia. Que os inquéritos apurem devidamente e apresentem os faltosos à Justiça. Já a CPI do Senado, deveria ampliar prazos e, em lugar das audiências espetaculosas que tem oferecido à Nação, aguardar os procedimentos dos órgãos de fiscalização e controle e o resultado das investigações estaduais e municipais sobre o destino do dinheiro que o governo federal liberou para aplicação no combate à pandemia. E, depois de baixado o número de infectados e mortos, com o mal sanitário já em liquidação, juntar tudo e produzir um relatório consciente, preciso e sem o nefasto ar d e disputa eleitoral que tem presidido os trabalhos até agora. Em vez da contenda, precisamos é de entendimento e racionalidade, o quê, infelizmente, tem faltado nesse tempo onde perdemos milhares de compatriotas…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 

aspomilpm@terra.com.br 

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