Bullying, a tragédia na escola e fora dela

O assassinato da professora Elizabeth Tenreiro, de 71 anos por um aluno de 13  a quem ela teria, dias antes, repreendido ao separar uma briga na escola estadual Tomasia Montoro (Vila Sonia – zona oeste de São Paulo) é mais uma flagrante testemunha da insegurança na rede escolar e falta de controle sobre os jovens. Passados alguns dias, ou semanas, esse triste episódio, que também fez outros quatro feridos, cairá na rotina dos acontecimentos e não será mais do que uma simples página da crônica ao lado de centenas de outras que relatam o sofrimento, de maior ou menor dimensão, vivido dentro da comunidade escolar.

Derivado do termo inglês bully – que pode ser traduzido como intimidar, brigar, maltratar,  ameaçar e pode identificar o indivíduo como agressor, bruto, insolente, valentão e  de outros inconvenientes – convencionou-se que bullying é o ato de maltratar, humilhar e intimidar. O problema é estudado desde os anos 70, na Noruega e sua identificação alastrou-se pelo mundo. Chegou ao Brasil na virada  do século (1999/2000), mas tanto aqui quanto no exterior, só aumenta, com o passar do tempo, como se observa pelos atentados, conflitos e maus-tratos, especialmente de alunos contra professores. Onde há uma escola, grande, media ou pequena localidade e independente de outras variáveis, está presente essa alarmante problemática.

Sem dúvida, o bullying ou violência no âmbito escolar, é resultado da ordem social mundial das últimas décadas. Os códigos de violência tomaram os jovens de assalto e os professores costumam ser suas vitimas porque em boa parte das vezes, são os únicos de seu convívio que tentam lhes impor limites. A solução parece distante, mas a mobilização é necessária. Enquanto os especialistas buscam a gênese do problema, as famílias deveriam dedicar mais atenção e tempo à orientação dos seus jovens. Mesmo que essa atitude não seja  o suficiente para solucionar o mal, pai, mãe e familiares, em ação preventiva, podem evitar que seus filhos se tornem vítimas ou agressores e tenham o futuro comprometido caso participem de algo mais grave.

Embora envolva aspectos de segurança, é lícito pensar que  bullying não é caso de polícia. Só passa a ser quando as desinteligências decorrentes levam ao cometimento de crimes. Casos como o da professora Elizabeth e outros que produziram vítimas no espaço escolar não teriam ocorrido e ainda podem ser evitados se as escolas forem equipadas com portais detectores de metais como os existentes nos fóruns judiciais, bancos e outros  estabelecimentos. A não entrada de armas de fogo, facas, canivetes e similares tornará o ambiente mais salubre e, logicamente, economizar vidas e sofrimento. Mas não dá para ignorar que os ataques também poderão ocorrer na rua, no supermercado, no posto de combustível ou qualquer lugar, por diferentes motivações.  

A Pedagogia, através dos seus centros de saber, precisa encontrar fórmulas que salvem o alunado dessa nefasta rebeldia e os levem a priorizar a socialização, o aprendizado e a buscar na escola a profissionalização que tornará melhor o seu futuro. O Judiciário, por seus órgãos especializados, deve buscar alternativas anteriores às da repressão e do apenamento. Governos e parlamentares têm de se debruçar sobre o problema e mirar a prevenção pois depois que o bullying deságua em crime, todos já sabemos o que ocorre e isso não é solução.

O jovem deve ser alertado desde a tenra idade para os problemas que encontrará na passagem pela escola e na sociedade, que terá de frequentar para construir seu futuro pessoal e profissional. Pais e familiares o ajudarão muito se conseguirem incutir a cultura de não agressão, deboche ou segregação dos diferentes;.se informarem à sua criança que existem indivíduos problemáticos que, provocados, poderão chegar a extremos, destruir a vida de terceiros e até a própria. A propósito, esse tema justificaria até a realização de campanhas governamentais de cidadania, através dos meios de comunicação, valorizando as boas relações humanas e pessoais, o pacifismo e a não agressão entre os indivíduos, respeitando-se as diferenças.   

Só o cuidado partido do lar e potencializado pelas campanhas e nas ações dos grupos sociais, poderá evitar muitos problemas e tornar menos penosa a espera até o dia em que a ciência social e educacional possa decifrar e neutralizar os códigos que levam ao bullying em suas múltiplas facetas. A prevenção aos distúrbios do gênero é um importante trabalho de governo e seus órgãos. Não há o que se falar sobre ação policial, pois esta só ocorre durante e depois do crime. O ideal é evitá-lo.

É preciso mitigar o ataque antes dele ocorrer e se tornar caso de polícia…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) aspomilpm@terra.com.br

Seja o primeiro a comentar sobre "Bullying, a tragédia na escola e fora dela"

Deixe um comentário

Seu endereço de e-mail não será publicado.


*