Professores, famílias e a prevenção aos ataques

Os últimos ataques a escolas – o de São Paulo onde morreu a professora Elizabeth e o de Blumenau (SC) em que quatro crianças perderam a vida e cinco foram feridas – causam intranquilidade na população. Felizmente, os Governos Federal e Estaduais e o Ministério Público  estão se mobilizando em ações para acabar  com  esses atos criminosos e desumanos. Devemos, porém, lembrar que não basta a ação governamental. Mais do que nunca se faz necessário a atitude dos professores e da família, não para suplementar a ação estatal, mas para tratar do problema de forma humana e civilizada.

Ao lado das medidas oficiais – vigilância, investigação, inteligência policial e prevenção ao crime – é preciso, com a competência e o jeito do professor para ensinar boas práticas, incutir nos alunos a cultura de respeito à diversidade, primeiro pela respeitosa razão humanitária e suplementarmente para evitar as possíveis reações exacerbadas dos que, além de diferentes, também carregam alguma deficiência psíquica que os torna perigosos e até letais. Só o professor com sua vocação e treinamento é capaz de convencer o alunado de que não podemos e nem devemos  achincalhar ou ofender os diferentes; o mestre também é capaz de transmitir essa mesma cultura aos pais (nas reuniões de pais e mestres) para que estes orientem a partir de casa seus filhos a não cometerem a crueldade de ofender o diferente que não teve escolha e nem é culpado de sua diversidade mas, ofendido, pode explodir como uma bomba de alta potência.

O professor, com seu empenho, consegue convencer o aluno a respeitar os colegas diferentes – pouco importa qual o tipo de diferença –  e, dessa forma, cumpre com louvor a sua missão de educador. Além da educação formal, estará ele educando para a vida e as boas relações humanas e, consequentemente, protegendo todo o grupo de possíveis represálias. A soma de esforços dos professores e da família sempre foi o acontecimento mais benfazejo na vida do aluno.

Desavenças, brigas e problemas de relacionamento sempre existiram. Muitas décadas atrás, grupos de jovens de um bairro impedia  a entrada em seu “território” de jovens vindos de outros pontos da cidade. Isso ocorria tanto na capital quanto no interior. Nos anos 70, a prática passou a ser chamada bullying e referir-se com mais ênfase aos distúrbios nas escolas. As transformações sociais e a luta libertária do último século nos conduziram ao atual estado com jovens fora de controle. A facilidade de comunicação proporcionada pela internet levou a violência escolar a ser conhecida mundialmente. Tanto que os ataques são muito parecidos entre si e, invariavelmente, o autor busca notoriedade. e sente-se vitima, supostamente por ter sofrido bullying. Para se redimir, sente a necessidade de aparecer poderoso e não  fraco, mesmo com a possibilidade de morrer no final do episódio.

Apesar de ainda impactados pelos acontecimentos recentes, é uma esperança a atitude que os governos vêm adotando para inviabilizar novos ataques à rede escolar. A vigilância nas escolas, os professores socializadores, o botão de pânico (que já funciona em São Paulo) para chamar a polícia rápida e discretamente, e o canal para denunciar anonimamente postagens que incentivem o crime contra as escolas e os alunos. Essas providências, se não forem somadas à ação firme dos professores e da família, poderão apenas postergar os futuros ataques. Por isso é necessário desarmar os espíritos. Despotencializar a desumana brincadeira de mau-gosto.  

O cuidado físico e a segurança nas escolas são importantíssimos. Mas pouco valerá se as ações de governo não se concretizarem através da prevenção, investigação, medidas judiciais aos que delinquirem e controle absoluto das fake news. Os serviços de inteligência já estão identificando e eliminando as postagens incentivadoras dos ataques nas redes sociais e na deep-web, sejam elas verdadeiras  ou falsas. Seus autores têm de ser apresentados à Justiça e receber a punição dentro do devido processo legal.

Por mais eficientes que sejam as medidas governamentais, é preciso compreender que elas só surtirão efeitos se conjugadas com a indispensável ação dos professores e da família na jornada contra o bullying. Importante: não há razão para a falta às aulas. Compareçam todos e, para ter segurança, sigam os protocolos…  
 
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
aspomilpm@terra.com.br         

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