A República Digital, fenômeno mundial

Já faz pelo menos dez anos que nós, os brasileiros, vivemos sob a influência das redes sociais. Foi através delas a convocação das  .manifestações de 2013, contra a alta dos preços das passagens de ônibus urbanos,  que depois se estenderam em oposição à Copa do Mundo de Futebol de 2014, realizada em solo brasileiro, e culminaram com o impeachment da presidente Dilma Rousseff, concretizado em 2016. Os partidos – notadamente o PT, que estava no poder – e seus dirigentes perderam o controle do quadro político e a comunicação pela rede mundial ganhou hegemonia. As manifestações, até então capitaneadas pela esquerda, ganharam a presença forte da direita e nem os famigerados bl ackblocs foram capazes de recuperar o terreno perdido pelos que, supostamente, os financiavam.

O povo e nem os políticos tiveram a sensibilidade para entender na época que começavam a viver sob a égide daquilo que hoje começa a ser denominado República Digital. Os caciques políticos foram atropelados pelos influenciadores digitais que perceberam desde o começo a força do. computador, do smartphone e da internet. O novo e célere instrumento de comunicação passou mobilizar as .massas, no lugar dos partidos e lideranças. Líderes transformaram-se em párias e muitos deles até levados ao cárcere. Não restou pedra sobre pedra do regime da Nova República erigido após a devolução do poder nacional dos militares de 1964 aos civis.  A eleição de Jair Bolsonaro à presidência – com o candidato internado após a tentativa de assassinato sofrida em Juiz de Fora (MG) – é parte do processo, assim como a libertação dos punidos para que pudessem voltar a participar do processo eleitoral.

Foi uma década de tribulações. Os que perderam o poder reagiram e os que o obtiveram no seio das transformações não o conseguiram manter. A polarização política – que chega às raias do absurdo e da negação democrática – é o incômodo do momento. A República Digital se instala sobre um território com muitos vícios e inconveniências. E o povo – que passa a ter voz direta pelas redes, força pelo avanço enquanto os beneficiários das inconformidades trabalham pelo imobilismo. Temos instalada e ameaçadora a anacrônica luta entre esquerda e direita que, mesmo no ambiente tecnológico de hoje, ainda repetem velhos chavões de dezenas, até uma centena anos atrás.

Mas, a presença do arcabouço digital é irreversível e não se restringe ao Brasil. A internet e suas redes já interferiram fortemente em eleições na maioria dos países, inclusive nos Estados Unidos, Europa, Ásia e Oriente Médio. O Brasil é apenas mais um território digitalizado. E não haverá retorno. Mesmo com as tentativas de censura, as perseguições e ações daqueles que vêem o poder escorrer entre seus dedos, dificilmente voltaremos ao quadro de antes de 2013, quando os pensadores de hoje consideram ter se exaurido a Nova República. e começado a República Digital que, no sistema de identificação histórica de n osso País é a Sétima República Brasileira. Oxalá os políticos, os centros de saber social e a população tenham a sensibilidade capaz de entender o novo quadro e a Sociedade como um todo possa dele tirar o melhor dos proveitos. Que as imperfeições das seis repúblicas até hoje vividas fiquem como coisas do passado e o novo seja fonte de desenvolvimento, organização e bem-estar a todos os brasileiros…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 
aspomilpm@terra.com.br       

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