8 de Janeiro, a data do nada a comemorar…

Ao excluir do decreto presidencial de indulto natalino os presos e processados de 8 de janeiro, Lula perdeu a grande oportunidade de pacificar o País e, de quebra, promover-se como um governante humano. Ignorou que a quase totalidade dos detidos por estarem acampados na frente dos quartéis não passa de incautos insuflados na esteira da polarização política, que cometeram a besteira de ir pedir a intervenção militar, mas em momento algum chegaram a trazer dano ao País e às instituições, já que os fardados não atenderam seu pedido. O simples fato de terem perdido tempo nos acampamentos e manifestações e visto a posse do governo que contestavam já foi um castigo e desencorajamento a repetir a rebeldia. Salve melhor juízo, como cidadãos comuns, poderiam ou até deveriam ser processados e julgados em primeira instância, não pelo Supremo Tribunal Federal, que, pela lei, só julga diretamente governantes, ministros, parlamentares e outros detentores de foro especial. Submeter  aqueles mais de mil homens e mulheres – boa parte da terceira idade – ao tacão e rigor da corte suprema, soa exagerado e não leva a nada. Melhor teria sido o julgamento pelo juiz singular, no domicílio do réu, a tramitação dos possíveis recursos em segunda instância e a chegada ao STF só dos recursos mais complexos.

Em 1956, Juscelino Kubitschek sofreu a rebelião de militares que queriam impedir sua posse. Teve forças para vencer e, para pacificar o País, anistiou os revoltosos. Cumpriu todo o seu mandato, de cinco anos,  e teve forças para realizar a polêmica construção de Brasília e fazer um governo voltado ao desenvolvimento. Saiu com o prestígio e o compromisso de voltar a candidatar-se, o que só não aconteceu em razão dos acontecimentos que levaram os militares a assumir o poder em 1964.

O agravo de 8 de janeiro de 2023 foi o inaceitável quebra-quebra das sedes dos três poderes (Presidência da República, Congresso Nacional e STF). Além da punição aplicada ao governador do Distrito Federal e à cúpula de sua polícia, deveriam ter sido  chamados às falas os responsáveis pela guarda dos edifícios depredados. A invasão só ocorreu porque os invasores encontraram caminho aberto e, mais que isso, foram até escoltados rumo à Praça dos Três Poderes.

Outro engano será promover comemorações – oficiais ou oficiosas em 8 de janeiro próximo. Primeiro porque não  haverá o que comemorar, já que o golpe almejado pelos acampados nunca passou pela cabeça dos militares (os únicos capazes de desfechá-lo) e as instituições não estiveram sob risco. O ideal seria esquecer a data e aprimorar as apurações  exclusivamente sobre quem efetivamente depredou ou organizou o movimento, nunca o seu romântico participante que pensou poder derrubar um governo regularmente eleito munido apenas de algumas pedras nas mãos. Mas uma coisa é verdade: ainda está em tempo de chamar à responsabilidade os que se omitiram na proteção aos imóveis sinistrados e, com isso, ensejaram sua ocupação.

O presidente Lula, com sua vigorosa história política, não deveria ignorar os exemplos de Kubitschek (1956) e Nelson Mandela – a quem o líder do governo no Senado, Jacques Wagner, disse que o presidente admira e tem como exemplo). Depois de 30 anos na cadeia, Mandela foi liberto, fez-se presidente e perdoou seus algozes, pacificando a África do Sul. Pensando nas próprias feridas e na forma com que foi reabilitado, nosso presidente poderia ser mais sensível e, também buscar a paz, tão necessária ao Brasil contemporâneo; jamais apoiar ou promover o confronto que os interesseiros provavelmente lhe aconselham. Isso firmaria sua imagem de estadista…  

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 
aspomilpm@terra.com.br 

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