A vida sob forte ataque da dengue

O número de casos prováveis de dengue atingiu 95% do conjunto de 5.568 municípios brasileiros, em um momento em que a epidemia continua no auge, ante os 88% registrados no ano passado. Dez anos atrás, o índice era de 73%. Em 2004, 36% das cidades do país sabiam o que era dengue. Os números são do Ministério da Saúde. Mais de 2,6 milhões de casos prováveis de dengue foram identificados no país até o início de abril, segundo o Painel de Monitoramento das Arboviroses. Segundo os registros. o País já contabiliza 2.624.300 casos de dengue e 991 mortes pela doença em 2024.

Um conjunto de variáveis levou à explosão do mal. A começar pela pandemia da Covid-19, que mobilizou todos os recursos da Saúde e deixou a dengue em segundo plano. Soma-se a isso a virada climática dos últimos meses que, em razão do fenômeno ‘el niño’ causou-nos primavera e verão com mais chuvas e calor, ambiente ideal para a proliferação do mosquito aedes-aegypt, transmissor da dengue, Zika e Chikungunya. Com a elevada população do inseto, veio a proliferação das doenças que hoje causam mais preocupação do que a Covid-19, tida como endemia numa população largamente vacinada.

Pelo que se verifica, o mal do momento é a dengue ou, mais que isso, o mosquito transmissor. A vacinação contra esse mal está apenas no começo. Adquiridos de um laboratório japonês, os imunizantes são escassos, o que levou o Ministério da Saúde a liberar a aplicação exclusiva aos jovens de 10 a 14 anos. Mesmo assim, o comparecimento tem sido baixo e as autoridades sanitárias fazem manobras para aproveitar as doses que logo deverão perder a validade. É uma vacina de duas doses, devendo a segunda ser aplicada 90 dias depois da primeira.

Temos também a produção da vacina antidengue pelo Instituto Butantã, de São Paulo. Os testes publicados pela equipe pesquisadora dão garantias de eficiência e isso levou a instituição a pedir o registro e aprovação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância sanitária) com a expectativa de poder produzir em larga escala e fornecer a vacina a todo o País a partir de 2025.  

Enquanto a vacinação em larga escala não é possível, a grande arma contra a dengue, Zika e Chikungunya é o combate ao mosquito. Já vemos as campanhas exortando a população a eliminar de seus imóveis os recipientes (garrafas, latas, calhas, etc) que possam armazenas água e servir de criadouro. Há também o processo de aplicação de inseticida (conhecido como “fumacê”), onde viaturas percorrem as ruas espargindo o veneno para a eliminação do mosquito já existente. Grande número de cidades já decretou estado de emergência e com isso esperam receber recursos para aplicar nas ações de combate ao mosquito e, também, na ampliação da rede de atendimento de saúde para acolhimento da população adoecida.

Diferente da Covid, cuja transmissão é entre as pessoas, a proliferação da dengue ocorre exclusivamente através do mosquito. Assim, se conseguirmos eficiência no combata ao inseto, o alastramento do mal também estará controlado. Além dos esforços para evitar a criação do mosquito, todas as pessoas devem atentar para não serem atacadas pelos mosquitos ainda existentes. Se conviverem em locais de forte infestação, o aconselhável é usar repelentes e outras formas impedir o contato. Até porque ninguém sabe se o inseto está ou não contaminado. Ele se contamina com o sangue de doentes de, depois de adquirir o vírus, o transmite e faz a extensão do mal. A chegada da vacina do Butantã é uma esperança, mas o período de espera exige cautela…

Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 
tenentedirceu@terra.com.br
 

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