O mundo começou a semana preocupado com o Oriente Médio. Mais com os reflexos da instabilidade naquela região do planeta sobre a economia geral do que com os com o destino da população dos países em conflito. É importante ter clara essa reflexão. É de lá que vêm a maioria do petróleo que movimenta a frota de veículos, a indústria e aquece o frio de muita gente. A região detém 61% das reservas mundiais do óleo e controla as vias e meios de exportação aos consumidores. Se as desavenças aumentam e ocorre uma conflagração regional, o primeiro reflexo é a redução da produção petrolífera e o consequente aumento dos preços da gasolina, diesel e demais derivados. Isso, além do desconforto que traz ao consumidor na hora de abas tecer seu veículo, provoca o desequilíbrio econômico e – pasmem – pode até interferir nas eleições mundo afora, principalmente na dos Estados Unidos – a maior economia – que já se encontra em curso.
O desentendimento entre os povos do Oriente Médio é coisa antiga e reúne aspectos geopolíticos, econômicos, sociais e, especialmente, religiosos. São divergências que dificilmente chegarão a um consenso. O advento do petróleo, que enriqueceu a região, é um controlador mas, quando sai da medida, envia sua instabilidade para todo o planeta. Recorde-se o grande choque do petróleo, de 1973, quando os países produtores reduziram a prospecção em seus poços e deixaram importantes consumidores carentes da energia. Hoje, talvez, as consequências não seja daquele tamanho porque temos produtores do óleo em outras regiões, entre eles o Brasil que, pelo menos teoricamente, não se subjuga à política daquela região. Mas, de qualquer forma, seria um problema com o qual ninguém contava.
A região tem merecido a atenção e preocupação desde quando o grupo terrorista Hamas atacou Israel, em outubro passado. Depois Israel revidou e a guerra entre israelenses e palestinos já e infelizmente fez milhares de mortos – muitos deles civis, mulheres e crianças que nada tinham em relação ao conflito. Aos poucos, a guerra vai esbarrando em interesses regionais e provocando a solidariedade de grupos. Israel matou dias atrás militares do Irã, em represália ao apoio dos iranianos ao Hamas. No sábado, o Irã atacou Israel que demonstrou competência na vigilância de seu território e derrubou a quase totalidade dos artefatos disparados pelo adversário. Agora verifica-se o mau-humor e o quadro de ameaças. A ONU (Organização das Nações Unidas) reuniu s eu conselho de segurança, mas apenas lamentou o ocorrido, sem chegar a qualquer conclusão. Seu secretário-geral, o diplomata português Antonio Guterrez, adverte que a situação é perigosa. Vamos torcer para que o presidente Lula deixe o Brasil fora dessa contenda, pois seus pronunciamentos sobre política internacional não têm agradado e nem trazido dividendos à diplomacia brasileira.
Quando menino – no pós 2ª Guerra Mundial – ouvi muitas vezes dizerem que “em tempo de guerra, há mais mentira do que terra”. Isso me leva a pensar que, embora provoque desconforto aos seus clientes de petróleo e derivados, mesmo que a guerra se consolide no Oriente Médio, dificilmente sairá da região. Assim sendo, não vejo motivo para os temores já manifestados por alguns de que isso seja o estopim da 3ª Guerra Mundial. Sou daqueles que, por uma série de motivos, especialmente pela disponibilidade de sofisticados armamentos capazes de destruir o planeta várias vezes ao mesmo tempo, não haverão governantes loucos o suficiente para apertar o botão do Apocalipse. Até por uma questão de sobrevivência, os conflitos serão sempre regionais e raramente empregarão armas nucleares por um simples motivo: depois do primeiro tiro poderá estar perdido o controle e a possibilidade de armistício ou conciliação. Penso, no entanto, que tudo o que se puder fazer para evitar os conflitos é salutar. Não brigue com quem tem petróleo; você ainda vai necessitar dele por pelo menos 30 anos…
Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)
tenentedirceu@terra.com.br
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