ARTIGO – Como ser contemporâneo, num mundo contemporâneo

(Parte I)

Caros leitores este texto visa fazer uma reflexão de “como ser contemporâneo num mundo contemporâneo” e faz parte do compromisso de nossa Academia de Letras, Cultura e Artes do Centro Oeste, que busca entender esse “mundo” em transformação na qual vivemos nos dias de hoje. A história contemporânea teve início no último terço do século XVIII, com a afirmação da hegemonia anglo-saxônica, após três séculos de Mercantilismo. Foi uma fase de expansão europeia e de construção da Revolução Industrial inglesa. A história contemporânea tem sido marcada pela sucessão de sistemas mundiais hegemonizados por uma potência e intercalados por fases de transição e configuração de novas lideranças.

Estas, encontram-se apoiadas nos paradigmas econômicos, sociais, políticos, culturais e tecnológicos de cada modelo de produção e padrão de acumulação. Durante os trezentos anos compreendidos entre o final do século XV e do XVIII, a expansão mercantil europeia deu origem ao sistema mundial, em lugar dos anteriores sistemas internacionais de dimensão regional. Assim, a construção de sistemas internacionais estruturados em escala mundial, dotados de continuidade histórica e de um caráter progressivo, iniciou há quinhentos anos, com a revolução comercial que caracterizou a expansão europeia e a construção do capitalismo.
Anteriormente, os grandes impérios chegaram a integrar amplas regiões, mas seu colapso produziu o retrocesso e, mesmo, a interrupção deste fenômeno. O império mongol, que por volta do século XIII construiu a mais vasta unidade política geograficamente contígua. Tratava-se, no máximo, de sistemas internacionais de âmbito regional.

No século XV o mundo ainda era dividido em polos regionais autônomos, quase sem contatos entre si. Entre eles podemos mencionar os Astecas, os Maias, os Incas, a cristandade da Europa ocidental, o mundo árabe-islâmico, a Pérsia, a China, o Japão, a Índia e impérios da África negra, como Zimbábue. Seguramente o polo mais desenvolvido, na época, era a China. E é importante notar que antes do surgimento do capitalismo as crises econômicas, que produzem ondas de instabilidade e novas relações e acomodações, não possuíam qualquer regularidade, eram crises de escassez, e não de superprodução, como passou a ocorrer desde o século XV no sistema capitalista.

Sob o impulso do nascente capitalismo, os reinos europeus iniciam a expansão comercial. As monarquias dinásticas, legitimadas como atores principais das relações internacionais pela Paz de Westfália em 1648 e apoiadas no capitalismo comercial, que protagonizaram a estruturação de um sistema mundial liderado sucessivamente por Portugal, Espanha, Holanda e França. A sucessão de cada uma delas pela seguinte era acompanhada por uma expansão e aprofundamento do sistema.

Tratava-se de uma “globalização” que ocidentalizava ou europeizava o mundo. Este sistema era baseado no comércio, na formação de um mercado mundial e no domínio dos grandes espaços oceânicos, e a queda ou declínio de cada uma destas lideranças não produziu o colapso do sistema. Pelo contrário, cada uma delas foi sucedida por outra mais capacitada, com o sistema se tornando ainda mais complexo e integrado, como assinala Giovani Arrighi.

A história contemporânea, que iniciou no último terço do século XVIII, apresenta-se como uma sucessão de sistemas mundiais intercalados por fases de transição e configuração de novas lideranças. Elas se fundamentam nos paradigmas econômicos, sociais, políticos, culturais e tecnológicos de cada formação econômico-social. Assim, de 1776 (ano da independência dos EUA, da publicação de A riqueza das nações, de Adam Smith e a criação do vice-reinado do Prata na América Espanhola) a 1890, a Pax Britanica foi embasada na Revolução Industrial e regulada pelo liberalismo, dando início ao mundo dominado pelas potências anglo-saxônicas. O Congresso de Viena substituiu o conceito de monarquia dinástica pela de potência.

Mas o advento da II Revolução Industrial, desde os anos 1870, bem como de novos países competidores e do paradigma fordista, conduziram ao desgaste da hegemonia inglesa no final do século XIX. A partir de 1890 tem então início uma fase de crise e transição, marcada pelo acirramento do imperialismo, com a partilha do mundo afroasiático, pela formação de blocos militares antagônicos, por duas guerras mundiais, por uma Grande Depressão de alcance planetário e pela ascensão do nazifascismo e do comunismo, que de movimento social se transforma em regime político. Foram mais de cinco décadas de crise e disputa por uma nova liderança entre potências e projetos de ordem mundial e modelos de sociedade.

Ney Iared Reynaldo, doutor em História da América, docente do curso de História/ICHS/CUR/UFMT e membro da academia de letras, cultura e Artes do Centro Oeste em Barra do Garças – MT. Email: niaredreynaldo@bol.com.br

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